1. Jesus espera muito de nós seus discípulos. Certamente porque nos tem em grande apreço e, mais ainda, por sermos revestidos com o dom do Espírito Santo. Pede-nos, nada menos, que sejamos sal da terra e luz do mundo. Numa cultura como a nossa em que se vive à superfície das coisas, ao sabor de lugares comuns, de forte individualismo e indiferença humana e religiosa, teremos nós cristãos coragem e capacidade para iluminar com uma proposta alternativa de vida fraterna, de interioridade espiritual e de responsabilidade pelos outros e pela criação? Num ambiente de tantas fraudes, mentiras e vaidades, reconhecer- -nos-ão credibilidade para sermos sal que vence a corrução e dá sabor e gosto à vida? Com a graça do Senhor e a nossa caridade humilde é possível e é urgente que abracemos esta missão.
Vinha já do Antigo Testamento a recomendação do amor fraterno, como ouvimos na 1ª leitura e no salmo responsorial: reparte com largueza o que tens – o pão, a casa, o tempo, o afeto, as oportunidades que a vida te oferece. Não acumules só para ti. Elimina as palavras ofensivas e os gestos de ameaça. Se assim procederes, a tua vida terá luz e alegria. Jesus vai ainda mais além: não recomenda apenas a solidariedade mas confia aos discípulos a responsabilidade de ser luz pelas obras de justiça e de caridade. É uma questão da própria identidade do discípulo. Se não for sal e luz para os outros, fracassa, não serve para nada. Ser discípulo de Jesus é, como Ele, passar pelo mundo fazendo o bem, deixando um rasto de luz.
2. Que poderemos fazer num mundo tão vasto e complexo? Se, ainda por cima, nos apresentamos cansados e desanimados? É verdade que somos pobres, frágeis e pecadores. Mas, se invocarmos e confiarmos na graça de Deus, podemos muito. Uma luz pequena mas intensa torna tudo mais claro à sua volta. Um pequeno grupo de cristãos convictos, unidos e ativos são uma presença relevante e eficaz. Cuide, pois, cada um nós, de progredir no conhecimento e na prática da fé e da vida comunitária para nos enchermos da luz do Espírito Santo e a irradiarmos à nossa volta.
3. O perfil do cristão, enquanto discípulo chamado a ser sal e luz, é dinâmico e cativante. De facto, o cristão tradicional apresenta-se frequentemente individualista, guardando (ou escondendo) a fé no seu íntimo (“debaixo do alqueire”). Por outro lado, apoia-se no ambiente, em conformismo com os outros. O cristão discípulo, porém, tem convicções pessoais, vai à frente, não se intimida nem se guia pelos outros mas por Cristo, caminho novo e, desta forma, abre caminhos novos para os outros. Torna-se assim uma luzinha que irradia. Muitas luzinhas, unidas ao redor de Cristo, verdadeira luz que a todo o ser humano ilumina, formam um clarão como uma cidade situada no cimo do monte que serve de referência aos caminhantes que procuram vencer a escuridão. Eis a bela missão a que o Senhor nos chama a colaborar.
D. Manuel Pelino Domingues