Filipa, o que é o projeto PsicoCuidar?
O projeto PSicoCuidar foi um prémio da Fundação La Caixa e BPI, com o qual, o Núcleo do Ribatejo da Alzheimer Portugal foi distinguido este ano e que tem por objetivo promover iniciativas de ações sociais em meios rurais para pessoas em situação de Vulnerabilidade. O nosso projeto foi um dos 22
projetos finalistas distinguidos a nível nacional e tem como objetivo a criação de uma Unidade Itinerante de Capacitação, Diagnóstico, Apoio e Intervenção Psicossocial nas Demências. O projeto visa apoiar as pessoas com demências e os seus familiares cuidadores que residam no Distrito de Santarém. O seu foco são as necessidades e os recursos destas pessoas (pessoa com demência e cuidador) que vivem em zonas rurais e que devido às assimetrias entre os grandes centros urbanos e as zonas rurais têm, frequentemente, desafios no acesso a cuidados e à literacia em saúde. O Projeto visa diminuir estas dificuldades/desafios e caracterizar as vantagens e desvantagens dos cuidadores de uma zona mais rural. O projeto conta, também, com a colaboração de diversos parceiros, nomeadamente os municípios de Almeirim e Coruche, todas as Juntas de Freguesia do concelho de Almeirim, o Instituto Politécnico de Santarém e a EAPN- Rede Anti pobreza. Todos estes parceiros têm um papel muito importante no PsicoCUIDAR que se revê numa intervenção de parcerias e em rede em prol das pessoas com demências e dos que delas cuidam. Desta forma, procuraremos cumprir os objetivos do Projeto que são Melhorar a qualidade de vida das pessoas com demência e do Cuidador Informal, Identificar situações de pobreza e/ou exclusão social; aumentar a literacia em saúde e as competências dos cuidadores; retardar a evolução da doença e diminuir a sobrecarga do cuidador informal: Caracterizar as necessidades das Pessoas com demência e dos cuidadores residentes em zonas rurais.
Quais os eixos que vai abranger?
O Projeto tem diversos Eixos. O Primeiro Eixo prende-se com a Realização de Diagnóstico Social e a capacitação dos Cuidadores. Foi elaborado um questionário, em colaboração com a EAPN que irá ser aplicado a todos os cuidadores de pessoas com demência que atualmente residam no Distrito de Santarém Com os resultados deste questionário procuraremos identificar situações de risco/pobreza e/ou exclusão social e traçar um perfil das necessidades e recursos dos cuidadores da zona rural. Neste eixo irão, ainda, ser realizadas ações de capacitação sobre as demências e estratégias de cuidados em colaboração com diversas Juntas de Freguesia do distrito, pretendendo-se aumentar os conhecimentos dos cuidadores e partilhar experiências entre eles. Serão, ainda, realizados rastreios de memória gratuitos à população destas freguesias com o objetivo de detetar eventuais dificuldades de memória. O Outro Eixo é a intervenção direta com as pessoas com demência e os seus familiares.
Um dos eixos está relacionado com os cuidadores das zonas rurais que são diferentes das zonas urbanas?
Exatamente. É neste eixo que iremos aplicar os questionários aos cuidadores e cujos resultados nos permitirão caracterizar as suas necessidades e recursos e as vantagens e desvantagens que consideram existir ao ser cuidador residente numa zona rural.
Como chegam os inquéritos às pessoas que não têm Internet?
As pessoas que têm internet podem faze-lo através de um link que disponibilizamos. Todavia, qualquer cuidador poderá contactar diretamente o Núcleo do Ribatejo através dos nossos contactos telefónicos (243 000 087 ou 962 906 313). Nós disponibilizaremos o link ou os técnicos aplicarão o questionário por telefone. No caso de dificuldades financeiras, seremos nós a retomar as chamadas aos cuidadores. Apelamos à colaboração de todos os cuidadores. Cuidar de uma pessoa com demência pode ser muito difícil e um enorme desafio, provavelmente acrescido por se residir em zonas mais rurais, com maiores dificuldades ao nível de transportes, de acesso mais imediato a cuidados, tanto para a pessoa com a
doença como para o familiar. Daí ser tão importante dar voz e espaço a estes cuidadores e fazer chegar as suas necessidades às entidades públicas para que se promovam serviços, projetos e acessibilidades aos mesmos. Este Projeto pretende ser o veiculo para recolher as opiniões dos cuidadores e delas tirar ilações e recomendações para um presente e futuro próximo, que lhes garanta mais qualidade de vida e equidade. Reforçamos, por isso a importância de uma participação ativa de todos os familiares cuidadores de pessoas com demência do nosso Distrito.
Depois desta caracterização feita, o que vão fazer?
Está em cima.
E qual a expectativa para este estudo. O que esperam encontrar?
As expetativas é que as pessoas participem, para dar mais consistência aos resultados encontrados. Provavelmente, e exclusivamente partindo do pressuposto daquilo que verificamos no terreno, no dia-a-dia, os cuidadores
poderão indicar como uma desvantagem o acesso a cuidados e uma grande vantagem o suporte da vizinhança e comunidade local. Há 15 anos o Núcleo
do Ribatejo participou numa investigação com diversas universidades internacionais, na qual, o que nos distinguia de países como a França, Espanha e Itália era a existência de uma rede comunitária e de vizinhança muito forte e eficaz. Prevemos que, embora, tenham ocorrido muitas alterações na nossa Sociedade, nos últimos tempos, esta vantagem ainda seja verdadeira e uma realidade para a nossa zona.
Outro eixo será só para Almeirim com um grupo técnico para trabalhar com pessoas com demência e cuidadores ao domicilio?
Sim. Semanalmente e após uma avaliação multidisciplinar preliminar, a equipa de técnicos fará Visitas Domiciliárias, nas quais, levará a cabo uma intervenção clínica com a pessoa com demência. As intervenções serão centradas na pessoa, respeitando as suas capacidades remanescentes (ainda não deterioradas), as suas preferências, ritmo e individualidade. Estas intervenções procurarão retardar a evolução da doença, ser fonte de auto-estima e bem-estar, promovendo a qualidade de vida das pessoas. Os técnicos intervirão, ainda, com os cuidadores através de sessões, nas quais, poderão identificar as suas necessidades e realizar suporte pedagógico. A participação nestas intervenções/atividades será gratuita durante o período em que se desenrolar o projeto. Salientemos que estas intervenções respeitarão todas as exigências e normas da DGS, pelo que as equipas irão devidamente equipadas, munidas de todos os equipamentos de proteção individual, cumprindo os requisitos de segurança. Quem estiver interessado em participar deverá contactar rapidamente o Núcleo do Ribatejo, manifestando a sua vontade.
O último eixo terá relacionado com formação?
A Capacitação/formação dos Cuidadores é uma vertente fundamental do projeto. Sabemos que a tarefa de Cuidar é árdua, provoca grande sobrecarga nos cuidadores e, inclusive, muitos adoecem física e psicologicamente. Um Cuidador exausto terá maiores dificuldades em cuidar e isso traduzir-se-á em menor bem-estar da pessoa com a demência. É fundamental dotar os cuidadores de ferramentas e estratégias que os ajudem na tarefa de cuidar, pelo que a formação é imprescindível. Criamos o Grupo Dona Memória que terá, a partir de julho, sessões mensais de formação sobre diversos temas como as Estratégias de Vida Diária; Ocupação, Comunicação com a pessoa com demência, entre outras. As sessões serão em formato digital, através da plataforma zoom, dando a possibilidade aos cuidadores de poderem assistir e participar no conforto da sua casa. Os cuidadores interessados deverão contactar telefonicamente o Núcleo do Ribatejo, caso pretendam inscrever-se. As inscrições estão acessíveis até dia 10 de Julho e são gratuitas. Serão, também realizadas 2 sessões presenciais em espaços públicos e abertos, em Setembro, a decorrer em Almeirim e Coruche, destinadas à partilha de vivências dos Cuidadores.
Quais os aspetos inovadores deste projeto?
O Projeto Psicocuidar inova ao constituir-se como uma resposta descentralizada dos grandes centros urbanos e concelhios, que colmata as dificuldades de acesso e transporte, permitindo informar e facilitar cuidados às pessoas com demência e aos seus cuidadores. Procurará, ainda conseguir o Diagnóstico de situações de pessoas com demência em situações de pobreza e de exclusão social e posterior intervenção. Ao realizarmos a Intervenção centrada na pessoa, no seu local de residência, estamos também a facilitar o acesso e intervenção a pessoas com demência e cuidadores do Portugal profundo, com necessidades distintas. Em síntese, o projeto é inovador pois inclui todos aqueles que se esquecem devido à doença e que muitas vezes são por nós esquecidos por se encontrarem mais longe do nosso olhar. O Projeto Psicocuidar caracteriza-se pela sua itinerância.