A enfermeira Rosarinho Salavessa, enfermeira de 60 anos, tem dedicado uma vida a ajudar os outros, em vários projetos de voluntariado. Nesta entrevista, damos a conhecer melhor as convicções de quem dá tudo aos outros.
Como surgiu a ideia de fazer voluntariado?
Sinceramente não sei. Está no sangue e nos exemplos transmitidos pela família. Não me concebo com a ausência de voluntariado. É como um ”payback”, ou seja devolução à comunidade de tudo o que aprendemos e podemos aplicar a bem da humanidade, e dos mais necessitados.
E há quanto tempo?
Tempo…desde sempre. Tive a escola da família. Iniciei na minha juventude, mas formalmente quando fui estudar para Lisboa nos bairros necessitados e nos sem abrigo. Depois nunca mais parei. Ser voluntário é algo que nos transmite energia e bem estar.
O que significa ser voluntária?
Ser voluntária, de acordo com a lei nº 71/98 de 3 de novembro, artº 3º é “ o indivíduo que, de forma livre, desinteressada e responsável se compromete, de acordo com as suas aptidões próprias e no seu tempo livre, a realizar ações de voluntariado no âmbito de uma organização promotora”.
Mas, para mim ser voluntário significa realizar atividades ao serviço de outras pessoas com dificuldades ou problemas, num trabalho solidário, organizado, sustentável e em equipa ao serviço do bem comum.
Quanto tempo do seu dia dedica a ações de voluntariado?
As minhas ações de voluntariado não são diárias, mas sim semanais. Tenho às terças-feiras das 12 às 14h, às quartas depois das 16,30h e às quintas das 9 às 10h e das 14 às 17h. Caso seja necessário, serão esporadicamente, serão associados outros horários dentro da minha disponibilidade.
Que situações mais marcantes viveu?
Muitas mesmo. Contudo, as piores têm a ver com o voluntário hospitalar no Instituto Português de Oncologia, em Lisboa.
Mas, também não posso deixar de salientar situações deprimentes de falta de necessidades humanas básicas como alimentação, higiene e muitas outras. Situação esporádica, como nos incêndios de Pedrogão, sem dúvida uma situação inimaginável.
Com a pandemia também ficou privada de fazer voluntariado?
Sim, de algum nomeadamente o voluntariado hospitalar. Contudo, tivemos de nos reinventar em outros casos.
Como ultrapassou isso?
Atendendo a que mantive sempre algum voluntariado, e outras atividades nunca senti totalmente essa ausência. Mas não me sinto completa. Ainda falta retomar algumas ações de voluntariado.
Esperemos que a situação reverta, e voltemos à nossa realidade.
Com a pandemia áreas em que colabora, há algumas que aumentaram os pedidos de ajuda?
Sim, especificamente os bens alimentares.
O que tem aprendido com estas experiências?
Aprendido? Pergunta pertinente. Quando se fala de voluntariado, posso afirmar que se trata de um grande instrumento de transmissão de conhecimentos entre o voluntário e o utente. Todos podemos ser agentes de mudança. O voluntariado é, sem dúvida, um desenvolvimento de competências e talentos por vezes escondidos.
Convém referir que o voluntariado é transversal a todos os grupos etários. E, assim sendo pode ser considerado um veículo de transmissão de conhecimentos no âmbito social.
O que espera destas experiências de voluntariado?
Como professora, penso que a humildade e os não julgamento podem contribuir para o sentimento de pertença à comunidade. As nossas experiências de interajuda podem contribuir para o seguimento e aprendizagem dos nossos jovens. E, acima de tudo contribuir para uma sociedade mais justa e humana.
Que dicas e orientações poderia dar às pessoas que desejam fazer voluntariado?
– Todos podemos contribuir para o bem estar do outro;
– O voluntariado é transversal a todas as idades (posso mencionar que no IPO, uma das minhas parceiras de voluntariado tem 85 anos);
– Oportunidade de aprender com o outro;
– Experiência, como por exemplo os estudantes;
– Aproveitar os momentos “ mortos” a ajudar o outro;
– Melhorar a sensibilidade e empatia;
– Melhorar a autoestima;
– Envolvimento social e solidariedade.
Nunca pensou fazer voluntariado fora de Portugal?
Sim, sempre. Contudo, a vida familiar – marido e filhos, não mo permitiu. Espero ainda conseguir, se tiver saúde para tal. Ser voluntário é um dever de cidadania e torna-nos pessoas melhores!