O público mais atento às novidades literárias reconhece o seu nome associado a outros romances de ficção, como “ O Segredo de Martinica”, de 2012, que foi considerada “ficção do mês” e “Zé Manel Piloto”, de 2018, que recorda os tempos áureos da prática do desporto automóvel.
“O Diário de Jó” é o relato na 1ª pessoa de um gato, o Jó, testemunha de todo o tipo de compadres, subornos, enfim, do estado corrupto da justiça no século XVIII. Com muito humor, que aliás é habitual na sua escrita, ou não fosse uma voz crítica dos “bons costumes” à portuguesa, Fernando Silva começou a escrever esta obra em 2006. Entretanto, deixou-a de lado e escreveu outros livros e quatro peças de teatro, que vão ser levadas à cena por uma pequena companhia de teatro, o Grupo Cénico do Sport Império Marinhense.
Durante o confinamento, retomou a saga das aventuras deste gato preto. Mas confessa que os gatos só entraram recentemente na sua vida. Há cerca de 5 anos apareceu-lhe um gato a pedir guarida. Pertencia ao “clube dos cães” mas este gato que andava pelo Parque das Laranjeiras a “fazer-se às pessoas”, cativou-o pela simpatia e pela esperteza. Diz Fernando que lhe deu “cama, comida e roupa lavada” e, depois, o gato domesticou-o! Por isso, parte das receitas do livro revertem a favor da PRAVI – Núcleo de Alpiarça e Almeirim.
Nasceu em 1962, na Marinha Grande e foi o amor que o fez chegar a Almeirim, diz mesmo que “foi pescado”, uma pesca à linha há uns oito anos atrás. Mas já vinha a Almeirim, jogava hóquei no Sport Clube Marinhense e tem boa memória dos jogos com os Tigres. Outros tempos, uma rivalidade “acesa”, mas sã… O Desporto não lhe fica por aqui. Foi jogador no AC Marinhense mas um acidente durante a prática de ski aquático (partiu o joelho e “nem chegou à primeira divisão!”) ditou o fim do futebol em 1991.
Foi presidente do Atlético Clube Marinhense durante 4 anos e nem gosta muito de falar sobre o assunto porque diz que “os presidentes são os que têm sempre a culpa de tudo e pagam por tudo e mais alguma coisa”! Mas há ainda uma outra paixão que aparece referenciada em muitas das suas obras – os carros clássicos.
E chegou mesmo a correr no Campeonato Nacional de Ralis com clássicos. Tinha um Porshe de 1973. Ganhou um Campeonato Nacional, o primeiro grande rali em Portugal, em 1992, com um navegador de excelência, o António Marcelino, e ao volante de um Autobianchi A112. Teve várias vitórias, em 94, 95, 96 e 97 mas deixou as 4 rodas em 1998 por causa do Marinhense, regressando em 2004 ao desporto automóvel para mais uma vitória.
Já não pratica nem tem carros antigos porque o preço é “proibitivo”. Mas recorda com saudade esses tempos, tempos em que os ralis eram um tempo de festa e mobilizavam milhares de pessoas.
A sua escrita é uma reflexão de si próprio. No “Código M”, a trama evoca ainda os loucos anos 80. Nunca levou a escrita muito a sério. São os amigos e a companheira que o incentivam a promover os livros. Tirando o caso da escrita de “O Segredo de Martinica” , Fernando Silva não tem uma disciplina muito rígida no processo criativo. Quando começa a escrever, nunca sabe como acaba a história. E é esta curiosidade acerca do desfecho que “o obriga a escrever”. Mas da Arte ainda falta a música. Frequentou a Academia dos Amadores de Música aos 17 anos para tocar piano. E praticava muito. Recorda as aulas do professor Carlos Azevedo sobre Beethoven e chegou a tocar na Gulbenkian. Teve uma banda – Os Duques de Quibir e gravou um disco em 1989. Participou em programas de rádio, além dos vários concertos que realizaram pelo país.
Em 2019 voltaram a reunir-se os cinco “maduros” – Fernando, Vadinho, Paulo Norte,Quim Cruz e Pedro Martins para uma reedição do CD – “De Amantes” que comemora os 30 anos do grupo. Além do projeto – Flos (composição musical e videoclip) que tem em mãos, prepara já o próximo trabalho na área de escrita infantil.