Pedro Catrola Raposeira completou um ano de mandato à frente da Associação de Pais de Almeirim e foi reeleito presidente no dia 14 de outubro. Em entrevista a este jornal, o responsável discorda da atribuição de prémios de mérito aos alunos e quer uma escola mais equitativa.
Que balanço faz desta primeira fase do seu mandato?
Este primeiro ano foi um ano de aprendizagem pois, para todos nós, era quase uma novidade. Muitos assuntos novos, onde e como tínhamos de estar e o que era suposto fazermos. Começamos por reunir com os principais parceiros – Agrupamento de Escolas, Município e CPCJ.
Fomos confrontados com algumas coisas para os quais tivemos de aprender a resolver e, principalmente, aprender a servir de mediadores entre os diversos players. Estando a uma semana de completar um ano de mandato e querendo concorrer mais uma vez, tenho a convicção que face a todas as vicissitudes normais de uma primeira vez, as coisas correram muito bem.
Quais têm sido as maiores dificuldades?
A maior dificuldade que tivemos foi a ausência de uma transição entre direções. Tivemos de nos desenrascar! Um ano depois, ainda temos situações pendentes da anterior direção por falta de atas e de uma transição digna.
Quanto ao relacionamento com a comunidade escolar tivemos, tal como é salutar, pontos de vista diferentes que fomos tentando sanar ao longo do ano. Primámos pelo diálogo, a crítica construtiva e fomos limando arestas.
Mas a maior dificuldade que senti foi aquando do episódio tornado público relacionado com uma funcionária da Febo Moniz, onde foi necessário tomar uma posição pública que gerou uma onda de indignação junto de muitos.
O que acha que está mal ou menos bem no Agrupamento de Escolas de Almeirim? E bem?
Não gosto de dizer que as coisas estão mal, sabendo eu que não há organizações perfeitas. Algumas coisas, sem dúvida, que poderiam e podem ser melhoradas.
Sou bastante frontal e direto e, em regra, digo o que acho menos bem e digo o que, na minha opinião, se pode fazer diferente.
Quer nas reuniões que fomos mantendo, quer nos inúmeros contactos telefónicos conseguimos demonstrar o nosso ponto de vista e dando oportunidade ao contraditório fomos percebendo que nem tudo pode ser mudado de uma mão para a outra, mas, isso não impediu de deixarmos de marcar a nossa posição nos diversos órgãos, pedindo que muitos das nossas intervenções ficassem em ata.
Temos um caminho a percorrer para melhorar algumas situações que fomos encontrando ao longo deste último ano, mas pouco a pouco queremos rumar para um trilho diferente.
A nossa perspetiva será sempre de uma melhoria continua e de tentarmos aprender com todos para fazer mais e melhor.
O que está bem é para manter! Temos uma escola com a oferta formativa possível e temos contrariado o êxodo de alunos para outras escolas.
No Agrupamento são mais de 2400 alunos e como tal, para muitos vai estar sempre algo errado.
Um exemplo: um Encarregado de Educação mandou uma mensagem a queixar-se que o seu filho tinha comido fruta a mais na escola. Os pais demarcam-se cada vez mais da educação dos seus filhos e só procuram a associação e o agrupamento quando se deparam com um problema. Urge em que os mesmos se mobilizem em prol dos seus filhos e educandos.
As obras, por um lado, criam problemas mas irão dar certamente muito melhores condições aos estudantes, alunos e professores. É por isso um mal necessário?
As obras fazem parte dos últimos anos do “normal” do dia a dia nas diversas escolas intervencionadas ao longos dos últimos anos. Foram investidos muitos milhões de euros do Estado e do Município em Prol da Escola Pública.
Esse esforço financeiro vem melhorar as condições dadas do Agrupamento, docentes, funcionários e, claro, alunos que frequentam as mesmas escolas.
As obras e os monoblocos climatizados são mal vistos por parte dos pais pelos constrangimentos que provocam, mas são um mal necessário.
Há aspetos que poderiam ser diferentes? Sim, sem dúvida! Muitas vezes esbarramos com situações sem nexo. Acho que deveria ter existido uma reunião preparatória entre todos antes do esboço final.
Nem tudo faz sentido e poderia ter-se feito diferente com o mesmo dinheiro, mas enfim nem tudo é perfeito nem nunca o será.
Já se manifestou publicamente contra o modelo de distinções do prémio Dr. António Cláudio. Porquê? O que faria diferente?
Apesar de eu o ter feito publicamente sei que é o pensamento de muitos pais e encarregados de educação.
Apesar de respeitar o prémio e a distinção, não concordo de todo com as distinções, pois deveríamos promover a equidade entre todos e não a igualdade como muitos apregoam.
Se formos ver bem, a grande maioria dos alunos que recebem prémios e menções honrosas são alunos que, além do mérito e de algum esforço, têm toda uma bagagem por trás, desde ajuda em casa a explicações (nem todos os pais podem e conseguem investir na educação dos filhos pois os euros não esticam e há explicações que custam várias dezenas de euros). Além de gerar alguma frustração entre os jovens que por não conseguirem ter essa ajuda, nunca conseguirão chegar aos prémios.
E, sejamos francos, por exemplo, a educação física; todos os alunos que ganham os prémios serão assim tão bons na sua motricidade que lhes permite ter tão boas notas?
Respeitarei sempre os que ganham e as regras do prémio mas é a minha opinião. O que faria diferente, foi tema de conversa no último Conselho Municipal da Educação onde teve o acolhimento do senhor presidente em se passar a distinguir a turma (por ciclo de ensino) que ao longo dos anos que o mesmo decorre tivesse melhor desempenho global, e assim ia-se premiar o mérito coletivo em detrimento do individual.
Também gostava que fosse diferente a aplicação dos prémios monetários atribuídos aos alunos; deviam ter uma aplicabilidade em prol da sociedade e não para os alunos. Ressalvando que para os Alunos do 12º Ano o prémio monetário possa servir de incentivo ao estudo universitário esse para mim seria o único a ser distribuído pelos alunos.
Porque sentiu que deveria apresentar uma lista?
Durante os últimos anos vinha a assistir a uma inércia por parte das últimas direções da Associação e, nada melhor que demonstrar que podemos fazer diferente. Muitas pessoas falam, falam mas quando são chamadas a fazer a diferença fogem das suas responsabilidades, enquanto pais e encarregados de educação.
Tendo sido a sua mãe professora também lhe pede opiniões?
Apesar de toda a bagagem familiar, sou uma pessoa de convicções e premissas próprias mas não escondo que tenho pedido conselhos a várias pessoas ligadas à educação e à formação.
Salientando também o contributo que tenho retirado da minha integração na FAPOESTEJO (Federação de Associações de Pais) e na partilha de conhecimentos entre todos os meus pares.
Quando vai marcar uma Assembleia Geral?
A Assembleia Geral vai ser marcada para dia 14 de outubro.
Que assuntos irão ser discutidos e o que será analisado?
Tal como é normal sempre que começa o ano letivo, vamos ter os seguintes pontos da ordem de trabalhos: apresentação do relatório de atividades, apresentação do Relatório e Contas, Eleição dos Corpos Sociais, Nomeação dos representantes dos pais no conselho geral de educação.
Como perspetiva o setor educativo no futuro em Almeirim?
A perspetiva que tenho é bastante boa para o futuro da educação no concelho.
Com as obras nas escolas em termos de infraestruturas, temos o problema mais sanado com intervenções pontuais aqui e ali, para os assuntos que não puderam ser sanados aquando das obras e que o Município respondeu que irá desenvolver nos próximos anos com orçamento próprio.
Ficando apenas neste aspeto a faltar as obras na ESMA orçadas em mais de 7 milhões de euros.
Relativamente a outros assuntos temos a salientar a falta de funcionários, envelhecimento e aposentadoria dos docentes e a dificuldade na sua substituição. Durante anos, os professores foram muito marginalizados o que fez com que o futuro da educação das próximas gerações tenha sido posto em causa.