“Este desporto exige muito a nível psicológico”

Transformação: João Bernardo Nunes, em entrevista ao nosso jornal, conta por que razão decidiu entrar no ginásio e dedicar-se ao cultivo do corpo. Em criança, João era o mais pequeno da turma. Agora é uma das principais referências no concelho no que ao fisiculturismo diz respeito.

Porque decidiu em 2011, com 17 anos, ir pela primeira vez a um ginásio? Era só para manutenção ou já era para o “cultivo do corpo”?

Já lá vão uns aninhos! Sempre gostei e fui praticante de desporto, joguei muito anos futebol. Na altura “desliguei-me” do futebol e queria continuar a praticar desporto. Tinha uns amigos que já frequentavam o ginásio e decidi experimentar também. Ao início não ligava muito, era mais pelo desafio de progredir nas cargas utilizadas nos diferentes exercícios, treinava 2 a 3 vezes por semana. Depois passado uns tempos comecei a ver diferenças no meu corpo, ganhei uns quilos, mas mantive sempre a minha estrutura magra. Em 2014/2015 começou então o objetivo do “culto do corpo”. Queria ver-me “maior”, mais “cheio”, gostava de treinar, gostava de ver o corpo a desenvolver, comecei a obrigar-me a comer mais (eu comia muito pouco) e nessa altura foi quando comecei a ver o meu corpo a mudar. No final do ano 2015 coloquei a meta de competir no ano seguinte. E a partir daqui foi sempre “quero mais”.

Nessa fase era um jovem com baixa autoestima?

Sim, tinha baixa autoestima. Era o mais pequeno da turma, um miúdo muito magro, devia pesar uns 55kg, os meus colegas gozavam, mas eu levava sempre as coisas na brincadeira. Nesse aspeto a mudança do corpo ajudou-me imenso.

Qual foi depois o percurso? Quais os resultados de maior destaque?

Em 2016 fiz a minha primeira competição, na categoria de Men’s Physique, sem saber nem perceber onde me estava a meter (ahah). Ia cheio de confiança, fiz o que o meu treinador na altura me mandou, mas não correu nada bem! Mas ficou o “bichinho” da competição. Em 2017 decidi tirar o curso de TEEF para entrar dentro desta área e deste mundo do fitness. Em 2017 e 2018 voltei a competir, mas os resultados nunca foram satisfatórios.

Depois porque decide deixar de competir e avançar para o papel de treinador?

Este desporto exige muito fisicamente, mas também exige muito a nível psicológico. Na altura de 2018 a minha vida teve bastantes mudanças e novos projetos apareceram e tive de optar. Mas sempre fiquei ligado ao estilo de vida mais saudável, ajudando as pessoas. No final desse ano também me apareceu a oportunidade de treinar o Fábio Florindo para ir competir (ele nunca tinha competido) e aceitei. Tive uma conversa séria com ele, expliquei-lhe todo o processo, tentei explicar o desgaste fisico e psicológico, e que não era propriamente um desporto barato. Ter uma alimentação adequada para competir, suplementos, viagens, inscrições nas provas, tudo isso é um grande bolo. Mas ele aceitou tudo isso e até hoje continuamos a trabalhar juntos!

Nessa pele quais têm sido os principais resultados?

No ano de 2019 fizemos um 2° lugar Men’s Physique até 176cm, na prova Regional Sul (primeira prova enquanto atleta e treinador). E um 7°lugar Men’s Physique até 176cm, na prova a nível Nacional. Voltámos no final do ano de 2021, com um 1°lugar Men’s Physique +172cm e um 1°lugar Overall Men’s Physique, na Taça de Portugal. E com 1° lugar Men’s Physique open, no troféu Pit Power. Este ano, decidimos ir a um nível mais complicado, uma prova internacional! No passado dia 18 de setembro, conseguimos trazer 1°lugar em Beginners Men’s Physique (estreantes em provas internacionais) e um 5°lugar em Men’s Physique até 176cm.

Quais os objetivos a médio longo prazo?

Para mim a parte das competições é apenas uma pequena porção. Eu faço acompanhamento online e presencial para pessoas que não ambicionam competir. Eu gosto de ajudar as pessoas, gosto de motivar as pessoas a terem um estilo de vida mais saudável. O facto das pessoas se preocuparem em querer mudar o seu estilo de vida não se trata apenas da imagem, mas sim da saúde! Cada vez mais aparecem pessoas com doenças associadas ao sedentarismo. Gostava de conseguir “chamar” mais pessoas à razão. E a longo prazo, abrir um ginásio, sem dúvida uma ambição que sempre tive desde que me formei na área.

Acha que existe uma ideia mais positiva sobre este desporto?

Acho que como em todos os desportos, há quem goste e quem não goste. Existe sim ainda muitos tabus devido há falta de informação e divulgação da modalidade. Penso que a mentalidade das pessoas vá mudando e isso começa a notar-se mais nas grandes cidades. Há muita gente que ainda pensa que uma simples proteína ou creatina, seja doping por exemplo. Existe uma mentalidade ainda um pouco antiquada nestes assuntos, mas penso que com o tempo e com a capacidade cada vez maior de acesso à informação as ideias comecem a ser formadas de outra maneira. Existem ainda muitas pessoas que julgam a aparência física dos atletas de fisiculturismo por serem demasiado musculados. O atleta não é apenas um corpo, existe atletas formados em várias áreas nomeadamente médicos, engenheiros, etc. O processo para chegar a este nível de corpo de competição exige muito esforço e dedicação pois implica um regime de dieta rigorosa e de treino intenso.