O “pai” do urbanismo da Zona Norte fala sobre a importância do Paço Real de Almeirim

Mandado construir em 1411 por D. João I, o Paço Real de Almeirim é hoje apenas uma memória. Se a dinastia de Avis a transformou numa “Sintra de Inverno”, a sua proximidade a Lisboa, a sua posição geográfica controlada pelo Tejo, as temperaturas amenas, a predominância da caça, elevou Almeirim a um espaço preferido não só para o lazer, como também enquanto ponto nevrálgico da regência do reino de Portugal. Seria também uma zona propícia ao treino militar.  A corte trazia gente que, a pouco e pouco, se foi instalando para tornar esta região aprazível e com condições de habitabilidade.

Neste paço, nasceram futuros reis, princesas, infantes, fizeram-se casamentos por procuração, estranhas mortes ocorreram mas, acima de tudo, foi a “casa” da Ínclita Geração. E o Paço Real está ligado às letras. Gil Vicente aqui representou alguns dos seus autos, e Garcia de Resende começou, neste Paço, a imprimir o Cancioneiro Geral. Duas importantes cortes, aqui decorridas, marcariam o destino do país: a de 1544 – onde D. João III confirmaria o príncipe D. João, pai de D. Sebastião, como futuro Rei, e a de 1580, presidida pelo cardeal D. Henrique, que tinha como objetivo a escolha de um sucessor. Cortes que foram augúrios de um drama, com a morte de um futuro rei que não veria nascer o seu filho, D. Sebastião, e de uma crise de sucessão que resultaria no domínio filipino. Ao longo dos séculos, o Paço Real foi sendo ampliado, modificado.

De um Paço acastelado, a uma estrutura mais palaciana, com hortas e sumptuosos jardins, a arquitectura deste complexo sempre suscitou fascínio. O Arquiteto Elias Rodrigues estudou fontes da época, e outras posteriores à existência  do Paço, e recriou, em 3D uma hipótese do que seria, à época, esta estrutura arquitetónica.

O “pai” do urbanismo da Zona Norte de Almeirim e membro da direção do Centro Cultural Regional de Santarém baseou-se nas descrições do Rei D. Duarte, no seu livro ‘Leal Conselheiro’ para o desenho e conceção do interior do Paço, no Painel de azulejos de S. Vicente de Fora, Lisboa (início do século. XVIII), na 1ª Planta da Vila de Almeirim, da autoria do General Manuel José Júlio Guerra (1855) e na fotografia do último Pórtico antes da sua demolição. Existe ainda, no CineTeatro de Almeirim, uma maqueta do Paço Real efetuada pelo Arqº Elias Rodrigues que está visível no piso superior do espaço.

Em 2011, ano em que se assinalaram os 600 anos da fundação do Paço, Elias Rodrigues e um conjunto de cidadãos juntaram-se e editaram um conjunto de postais alusivos a esta documentação, bem como folhetos explicativos da arquitetura do Paço Real. Na altura, o arquiteto foi convidado por escolas para mostrar este seu trabalho de divulgação deste exemplo da nossa memória coletiva.

O programa Cultur.Alm, na busca pela divulgação da nossa cultura local, entrevistou o Arqº Elias Rodrigues e apresentou dois vídeos sobre o Paço Real de Almeirim – Modelação 3D, por Guilherme Jacob Alexandre e o crescimento da cidade a partir do Paço – modelação 3D, por Carlos Monteiro. 

Em 1755, o terramoto torna o Paço Real inabitável. D. José I ainda vem a Almeirim, não ficando no Paço, mas na casa do estanqueiro de tabaco da vila. Restaria pouca coisa, além do imponente Pórtico de 24 metros de altura. Em 1792, D. João VI, o príncipe regente, ordena a demolição do Paço Real que levaria vários anos a concretizar. Mesmo sem o Paço, a história de Almeirim continua a ser escrita. Mas é preciso perceber o seu passado. Mesmo com incertezas, somos o que fizeram de nós.