Jorge Brioso regressou a Almeirim por umas horas para apresentar o segundo filho à avó e a ALMEIRINENSE TV não deixou passar a oportunidade de conversar com o antigo piloto de motas. Brioso, hoje já com 42 anos, está a mostrar apetência para os carros.
Onde tem andado o Jorge Brioso e o que tem feito?
Tenho andado pelo Algarve há 15 anos. Basicamente, terminei a faculdade, depois tive um ano a trabalhar nos Estados Unidos como piloto de motocross, com o meu colega de equipa Joaquim Rodrigues, no Dakar, Heroes. Na altura, as carreiras foram divergindo, eu fui como preparador físico dele e, quando voltei a Portugal, acabei por estar novamente ligado à preparação física de atletas e na saúde e bem-estar através de ginásios, especificamente no MyCenter, que é um complexo desportivo, em Faro, onde estou há 12 anos.
E as motas?
Comecei a andar de mota por volta dos seis anos, a competir com 10 anos e terminei com cerca de 22 anos. Desde então, tenho estado ligado a alguns pilotos que são do sul. Ainda treinei uma equipa aqui da zona de Vale de Cavalos, Alpiarça, que foi quando vim dos Estados Unidos, e, quando fui para o Algarve, trabalhei com miúdos também de motocross. Tem sido um trabalho mais soft, porque a vida familiar e pessoal não me permite tanto estar presente nas corridas, pois isso acaba por ser um trabalho contínuo e exaustivo, devido ao facto de termos que estar presentes nos atletas, acompanhar o que fazem, o que precisam de melhorar e isso requer mais tempo e mais de nós.
Nessa altura a sua carreira teve bons resultados. Porque é que não prosseguiu?
Porque é difícil viver no mundo das motas e, em Portugal, o apoio que existe para o desporto é maioritariamente para o futebol. Isso, juntamente com aquela pressão familiar de manter os estudos, acabou por fazer com que eu fosse para a universidade e tirasse o meu curso. Perdi cerca de quatro anos, que foram determinantes para eu decidir que já não era possível continuar a competir, pois tive bastante tempo parado, e percebi que já não tinha capacidade.
Os seus pais tiveram um papel crucial pois queriam o melhor para o Jorge. Tem algum arrependimento disso?
Não me arrependo de todo. Joaquim Rodrigues continua a ser piloto de motas, faz campeonatos do mundo, nomeadamente Bajas no Dakar e outras Bajas no Mundial, e fico feliz que tenha conseguido seguir a carreira profissional, pois não há muitos da nossa geração que tenham conseguido vingar nas motas e tenham feito disso vida. Mas fico feliz com a decisão que tomei e não mudaria, até porque abriu-me outras portas, novas experiências, novas emoções e novos conhecimentos.
Ainda anda de mota?
Sim, e acabo por me divertir mais agora do que antigamente porque não há pressão, não há compromissos e posso andar até ficar cansado. Ando de mota de todo o terreno, de motocross, e de circuito porque também faço formação e dou instrução na pista no autódromo internacional do Algarve.
Como é que, no meio disso tudo, se passa das duas para as quatro rodas, e de uma mota para um carro, nesse projeto que surgiu nos últimos tempos?
Surgiu através do facto de estar ligado ao autódromo, que fez com que conhecesse muitas pessoas, daí dizer que não estou arrependido do meu trajeto. Uma das pessoas que conheci foi o José Monroy, que é o dono da P21 Motorsport, que foi quem trouxe o Porsche Cup para Portugal. E, numa conversa, eu disse que correr de mota já não consigo, mas de carro até gostava, pelo menos uma vez na vida. Ele respondeu que, um dia, faria uma corridinha na Porsche Cup. Eu não tinha experiência de competir, só de circuito de instrução, em carros normais e não em carros tão potentes e com poucas ajudas a nível de eletrónica, mas foi uma loucura e uma experiência que me deixou agarrado e viciado desde o primeiro momento. E pronto, foi através do José Monroy que surgiu a oportunidade de fazer uma prova em junho ou Julho deste ano, no autódromo de Portimão, através de uma equipa que me acolheu. Eu partilhei um carro nessa primeira prova, fiz uma manga e outro piloto fez a outra, e, desde então, comecei bastante extasiado e a tentar angariar patrocínios, isto porque o desporto automóvel é caro. São valores grandes por prova, por corrida, e que faz com que eu, se quiser estar presente, tenha que ter esse valor, porque aquilo é um troféu criado para “Gentleman Drivers” e para amadores e não há ordenados nem equipas a pagarem aos pilotos, têm que ser os pilotos a pagar pela brincadeira.
Qual o resultado da experiência?
Essa primeira experiência foi uma prova no 997, que é a versão que compete e que pontua no Porsche GT3 Cup, e é muito difícil de conduzir. Nunca tinha conduzido e, no primeiro dia de testes, cheguei a casa completamente sem energia, porque o 997 tem cerca de 450 cavalos, sem controlo, tração, sem eletrónica nenhuma e fiquei nesse estado. No dia seguinte, entrei na prova mais concentrado, consegui fazer um tempo incrível, para o que eu achava que era capaz de fazer. Em dezasseis carros, creio que fiquei em 12º. Levei uma penalização por ter passado as bandeiras amarelas acima do limite de velocidade, porque era tudo novo para mim e eu estava excitado e tinha a adrenalina no máximo. Então essa penalização fez com que partisse em último. Acabei em 14º mas ficou a sensação de que podia ter feito mais. Na segunda oportunidade que tive, já com a versão que vai competir agora, 2023, que é 991, um carro um pouco mais potente mas mais dócil de guiar, e, com muito mais calma, fiz um tempo bom, fiquei em 7º ou 8º em dezasseis ou dezassete carros presentes. Fiquei bastante entusiasmado e pensei que tinha margem para progredir, muito para aprender, e que ia dar os seus frutos. E assim foi. Depois só havia mais uma prova até ao final do ano, que foi no Estoril. Em cada prova que participei estive presente em equipas diferentes. No Estoril estive num carro, que infelizmente não estava muito bom, tinha um problema mecânico que não conseguimos resolver e impossibilitou-me de fazer o meu melhor, que eu achava que podia fazer, mas graças à Safety Car e à penalização dos meus adversários, acabei por ganhar a classe dos convidados no Estoril. Não foi mérito meu, visto que os carros deles estavam mais rápidos do que o meu, mas terminei em chave de ouro, ganhei a classe e foi engraçado.
E agora o que aí vem?
Bem, agora estou a angariar patrocínios para a próxima época, 2023. Tive alguns apoios de empresas amigas, restaurantes, apartamentos e uma empresa de jardinagem. Solgarve, Casavostra Pizzaria e Greenflux. Depois, nestas segundas provas, já tive um grande apoio, que foi graças a eles que eu consegui participar, e eu gostaria de deixar o meu agradecimento e o meu obrigado, que foram empresas daqui de Almeirim. A Sopa da Pedra de Almeirim, as Casas do Ambiente, Work Permit e Speed Emotions. Foram estas quatro empresas que me apoiaram e foi graças a eles que foi possível fazer estas provas finais. No próximo ano está tudo em aberto. O campeonato é composto por seis provas, em Portugal e Espanha. É um trofeu Ibérico, vai ser o primeiro ano que o troféu vai ser oficializado como Porsche, Porsche Sprint Chalenge Iberica. Mudou o nome que é transversal a todos os que existem ao redor do mundo. A Porsche Mobil One Cup acompanha a fórmula 1, que é como se fosse o topo das Porsche Cups, e é ambicionar um dia chegar lá, não agora pois é preciso treino e experiência. Para o ano, vou tentar fazer essas seis corridas e o orçamento é caro. Uma pessoa para fazer uma corrida com tudo incluído ronda cerca de 15 mil euros por corrida. As seis corridas seriam por volta dos 90 mil euros e é muito dinheiro, mas acredito que consiga boa parte com patrocinadores, e vamos ver no que é que vai dar.
Que deixar uma mensagem aos almeirinenses que o conhecem bem?
Quero dar um grande abraço a todos. É sempre um prazer rever os meus amigos. Apesar de estar há 15 anos no Algarve o meu coração será sempre almeirinense, as raízes estão cá. No próximo ano, será em Portimão e Estoril e quem quiser ir ver está convidado. E, como eu digo a toda a gente, não parem de sonhar porque jamais achei que isto seria possível e acaba por ser um sonho concretizado. Para os mais jovens que não me conhecem acreditem nos vossos sonhos, para os meus colegas da crise dos 40, acreditem também, e para os mais velhotes um obrigado por todos os ensinamentos e energia que nos têm dado e conto com o vosso apoio para o próximo ano.