Em democracia, a palavra é dada ao povo. Após ouvi-lo, o que a democracia pede aos democratas é que entendam o que o povo lhes quis dizer.
Numas eleições democráticas, a vontade expressa pela população tem de ser respeitada e só novas eleições poderão alterar (ou manter) o resultado destas. Constatações tão evidentes para um democrata que bem poderiam enfileirar nas do senhor de La Palice …
No passado dia 10 de março, os portugueses votaram para a Assembleia da República. Independentemente da forma como estas foram convocadas e porquê, se havia ou não necessidade delas – assunto diferente, mas pertinente –, as eleições ditaram que AD, na sua pírrica vitória, ganhou e deve formar governo, o PS perdeu e deve ser oposição. Acho que não oferece dúvidas a ninguém. Se, claro, os votos ainda em falta da emigração, não alterarem o quadro atual.
A incongruência da “surpresa-esperada” da subida do Chega, é, além do mais, uma irónica prenda no aniversário dos cinquenta anos do 25 de Abril. Um partido (ou antes, um homem) sem ideologia – sem ética, populista e demagogo, um cuco no ninho da democracia – obtém o voto de mais de um milhão de portugueses. Estes votos têm origens várias: alguns porque são intrinsecamente de fascistas saudosistas; outros porque, por falta de espírito critico e pouco informados, acham piada ao estilo venturiano do contra tudo e todos e zero soluções; a grande maioria, porque estão descontentes. E é sobre este descontentamento que é urgente que os democratas se debrucem, reflitam nas suas várias vertentes, encontrem soluções e dêem respostas.
Se o não fizerem agora, o fenómeno trans-nacional do extremismo populista de direita continuará a crescer porque, um dia, poderá ser tarde. Depois não valerá a pena procurar culpados.
Gustavo Costa – PS Almeirim