As eleições de 10 de Março de 2024 foram, inequivocamente, um ponto fulcral na História da Democracia Parlamentar Portuguesa. Este foi o dia em que o bipartidarismo podre entre a Esquerda e a Direita acabou no nosso País acabando por abrir novas possibilidades de governação, com novos partidos, nunca antes contempladas na nossa Democracia.
Segundo o site da Secretaria Geral do Ministério da Administração Interna (SGMAI), o PS obteve 28.66% dos votos e a AD 28.63% perfazendo uma diferença entre os dois de apenas de 1963 votos. Efetivamente ambos os partidos ficaram com resultados muito próximos um do outro e abaixo dos 50%, o que demonstra que nenhum dos dois obteve maioria absoluta. No entanto, importa mencionar que ainda falta contabilizar os votos dos emigrantes que constituem 4 mandatos por eleger.
A este panorama tem de ser adicionado o Chega! que obteve 18.06% que representam 1.108.797 votos. Este número significa que mais de 1 milhão de Portugueses(as) votou neste partido e cujo o sentido de voto não pode ser ignorado pelos órgãos da nossa Democracia. Assim, a criação de uma maioria absoluta à Direita tem de contar obrigatoriamente com a presença do Chega! no seu governo, de forma a poder existir estabilidade governativa até ao término desta nova Legislatura. Caso contrário, o novo governo poderá cair não por iniciativa do Chega! mas sim pela intransigência do Dr. Luís Montenegro ao não se querer sentar à mesa para dialogar com o Dr. André Ventura.
Mais, convém referir que, o Chega! não será nunca um “andarilho” em quem a Aliança Democrática se poderá apoiar quando achar que lhe é conveniente ou ser usado com o intuito de servir os seus interesses. Não se pode empurrar para um canto um partido em que votaram 1.108.797 de Portugueses(as), mas depois exigir o apoio do mesmo para viabilizar quaisquer propostas apresentadas a custo zero.
Aliás, a Dra. Ana Gomes, na sua análise destas eleições, proferiu um comentário infeliz, referiu que o voto no Chega! é um voto inútil. Felizmente, a realidade provou ser diferente visto que ao se votar no Partido quebrou o bipartidarismo que se instalou em Portugal desde o 25 de Abril e obriga a classe política a pensar em novas formas de governar com novos partidos nunca antes contabilizados. Efetivamente, a partir de agora, irá existir uma figura que será voz ativa na governação e que servirá de crivo com malha ainda mais apertada para as propostas apresentadas pelo governo. A partir de agora já não vale o “vale tudo”.
Outro cenário que é digno de nota é que o Voto de Protesto suplantou o dito Voto Útil que não é mais que propagar do pântano governativo que sempre se viveu entre PS e PSD durante anos. Isto porque se generalizou o modelo de governo do: ou se governa com maioria absoluta concentrada num só partido ou não se governa. Esta forma é desadequada à realidade dos dias de hoje e à multiculturalidade do atual panorama político português.
É cada vez mais necessário que haja entendimento e diálogo entre os diferentes partidos políticos de forma a se atingir uma solução governativa que tenha exclusivamente em mente o Bem Estar dos Portugueses.
António Neves Carneiro – Vice-Coordenador da Concelhia do Chega de Almeirim