“Dizem que tenho contrato vitalício”

A equipa de seniores femininos do Vitória de Santarém festejou a vitória no campeonato interdistrital de Santarém e Castelo Branco, e consequente apuramento para a Taça Nacional após o dramático empate no Fundão, no jogo do título frente ao GD Valverde, com um golo de Teté nos últimos instantes da partida. Este foi o pretexto para a conversa com Ana Matias.

Que sabor é que isto tem?
Este tem um sabor especial. Já era um título que andávamos à procura já há algum tempo e este foi mesmo muito especial.

O Vitória tem conquistado nos vários escalões muitos títulos, muitos troféus, de resto parece não ser exagerado referir a hegemonia do futsal distrital nesta altura. O que é que caracteriza este clube?
Este clube são as pessoas. As pessoas que estão envolvidas, querem dar o melhor aos jovens atletas, muito principalmente a formação do Vitória. Tentam não faltar com nada e isso é meio caminho andado. Os pais também ajudam muito o clube na parte logística e é o que facilita também e o que também dá os bons resultados.

O Vitória conseguiu terminar a competição apresentando um percurso com seis vitórias e dois empates, em oito jogos realizados, 49 golos marcados e apenas 6 golos sofridos. É na segurança defensiva – isto é quase uma frase feita – que se constroem as vitórias, estes números espelham isso.
Sim. Isto também é fruto do trabalho da equipa, do staff todo. Nós temos um objetivo que é chegar aos nacionais e tem que se chegar lá com trabalho, isso é o que a equipa tem feito e viu-se agora no campeonato inter distrital.

Ana, 41 anos de idade, 20 anos ligada ao futsal, uma série deles no Vitória. O que é que continua a motivar a Ana para quase todos os dias – já vamos falar da Ana enquanto treinadora – estar ocupada ora a treinar ora a dar treino?
É o gosto pela modalidade. Gosto muito de futsal, gosto muito de futebol e, para mim, o futsal é um desporto espetacular. Isto também vai chegar ao fim, não é? Enquanto posso e o corpo deixar, vou aproveitando para fazer aquilo que gosto.

Acredita que, se tivesse nascido 20 anos mais tarde, não seria jogadora de futsal e seria jogadora de futebol, porque o gosto pelo futebol, esse é inquestionável?
É capaz. Até mesmo há 20 anos, se isto tivesse sido assim na altura. Eu comecei no futebol. Saí do andebol e fui para o futebol. Estive lá uns aninhos, mas talvez sim, não estava a jogar futsal.

Como é que surge ser treinadora e começar a dar treinos no futsal?
Tomei o gosto. Comecei por ajudar. Na altura estava no Futalmeirim e comecei por ajudar o Mister Paulo Jorge. Depois fizeram-me o convite para eu ficar com uma equipa de formação, tomei-lhe o gosto e é uma experiência espetacular. Eu, no Almeirim, tive um grupo 7 anos, estive sempre com o mesmo grupo e ver a evolução deles, vale mais do que qualquer troféu, e costumo acompanhar aqueles que já não estão comigo e é um orgulho aquilo que eles têm estado a fazer.

Ana, há bocadinho já disse que até o corpo permita jogar… Tem uma meta estabelecida, mais 1, mais 2, mais 3 anos ou não há mesmo de todo? A meta é mesmo quando sentir que fisicamente consegue?
Já há alguns anos que digo que é o último ano. Talvez seja este o último ano, vamos ver como é que acaba a época, como é que eu me sinto, porque isto também são muitas horas dedicadas ao futsal. Também chega a uma altura que queremos mais um bocadinho de descanso, e lá está, já são muitas dores no fim dos jogos. Vamos ver…

Há alguma saturação ou isso ainda não aconteceu?
Não, aos 41 anos estar a jogar, saturação ainda não há.

É também nesse espírito que tem, mesmo quando às vezes o corpo já está mais cansado, que é preciso ir buscar energia lá ao fundo, à ponta do pé?
Sim, tem de ser. Estamos lá é para jogar, é para ganhar e há que dar tudo pela equipa, mesmo que esteja 1 ou 2 minutos a jogar, sai e depois recupera, se me quiserem pôr novamente, já estou pronta.

Objetivos para esta segunda metade desta temporada desportiva?
Este ano fizeram-me o convite para ficar com a equipa de benjamins, o qual eu aceitei com muito agrado. Já tinha um bocadinho de saudades da formação, dos pequenininhos. Esta fase é ensinar os miúdos a gostarem do futsal e divertirem-se, nestas altura é o mais importante. Os juniores femininos já é um campeonato nacional. O primeiro objetivo foi cumprido que foi passar a segunda fase. Estamos numa das séries de apuramento de campeão, não é uma série nada fácil, mas também tenho uma equipa muito jovem. Apesar de ser um campeonato sub-19, eu tenho muitas miúdas, ainda tenho uma iniciada e algumas juvenis. O grupo é muito novo, precisam ainda de um bocadinho de experiência, mas isso vai lá com o tempo. Por aquilo que a equipa demonstra, a meu ver, está a correr bem.

Depois de terminar enquanto jogadora, a ideia é continuar como treinadora?
Sim.

A ligação ao Vitória, é uma ligação muito forte que será para continuar.
Sim, com certeza.

É um contrato vitalício?
Eles dizem que sim, enquanto eu me sentir bem, vou continuar. Sinto-me bem e vou continuar, só se houver alguma coisa ou um convite, nunca se sabe. Mas agora eu estou ali no Vitória e gosto muito das pessoas, gosto muito dos meus atletas, são excelentes miúdos e miúdas e é para continuar.