Teve início a Primavera e esta estação é o começo de um novo ciclo, que representa o “nascimento”. Este nascer e o brotar da vegetação é a primeira manifestação de energia vital, ou seja, a estação do despertar, estação excelente para trabalhar o nosso caminhar individual, de renovarmos as nossas intenções e propósitos preparando as nossas energias para uma nova fase, energias essas que nos fazem abrir novas fontes de conhecimento, nos torna mais otimistas, determinados e curiosos.
Conforme anunciado por Valter Madureira no seu Editorial de 1 de Abril passado, é o espírito da Primavera que me traz de volta às páginas do ALMEIRINENSE, não só enquanto intenção e propósito, despertando as minhas energias e enriquecendo o meu percurso, mas também o de possibilitar aos seus leitores novas fontes de conhecimento, procurando estimular a sua curiosidade por aqueles idos tempos, quando conhecidos éramos naquelas longínquas paragens do Oriente por “Ta-Ssi-Yang-Kuo”, respeitado nome significando o “Grande Reino do Mar de Oeste”. Outras razões existem, não menos importante porque de coração: o de celebrar no presente ano de 2024 os “50 Anos” de uma escolha acertada, o de ter escolhido Almeirim e as suas gentes para “terra minha e amigos meus”, após a perda, já há muitas décadas, do meu berço de origem e amigos de infância, na longínqua cidade de Damão, antiga Índia Portuguesa; e o meu regresso, após mais três décadas de ausência por razões profissionais, em Macau, salvo pequenos e esporádicos intervalos.
Sendo eu fruto da nossa grande e secular aventura oceânica, e porque amante da nossa História, há mais de quarenta anos que percorro, curioso, esses antigos territórios (foram cerca de uma centena) procurando recolher “os ossos desse nosso já morto Império”, como lhe chamou o pensador Eduardo Lourenço. Cumpre aqui referir o acolhimento caloroso e sentido que os povos daqueles antigos territórios me têm dispensado, despertando em mim a curiosidade e o interesse pela nossa errância por esse mundo desconhecido, por essas civilizações ou sociedades distantes onde nos enraizamos, estabelecemos feitorias, construímos fortalezas e fundámos cidades e fomos durante dois séculos os dominadores, os senhores, a autoridade, ou, amigos e aliados, para nos restantes três limitarmo-nos à nossa pequenez, lutando e sobrevivendo.
Com a disponibilidade manifestada pelo nosso quinzenário O Almeirinense e a pedido de muitos dos seus leitores, a quem agradeço a generosidade, para aqui trarei tais “ossos”, iniciando no presente ano um novo conjunto de escritos, abordando novamente a temática dessa nossa Expansão pelo Mundo; não os seus grandes vultos e heróis ou guerras e conquistas por todos conhecidos, mas sim pequenos factos ou curiosidades, algo insólitos, que se sucederam, pelas malhas tecidas por aquela antiga e longa transatlântica viagem e consequente ancoragem.
No conjunto de pequenos textos a iniciar já na próxima edição, não existirá uma fraseologia arrevesada, nem rigorosa ordem cronológica, nem obedecerá a uma prioridade temática. Tratar-se-ão apenas de anotações de acontecimentos pouco conhecidos, divulgados na nossa historiografia, logo não notórias, quais curiosidades recolhidas ao longo de muitos anos de leitura de obras de grandes cronistas e historiadores portugueses de ontem, ou de excelentes trabalhos de investigadores de hoje, todos eles abordando o tema em questão, isto é a grande aventura humana que tanto inspirou os nossos antepassados para as obras, sacrifícios e desmandos com que se fez o Portugal Ultramarino ou, ainda, de elementos colhidos por mim próprio, no local, ao longo das minhas constantes andanças e visitas por esse outrora Mundo Lusíada, onde se cumpriram a diáspora, a errância e a peregrinação portuguesas. Falarei de espaços construídos à base do querer de reis e vice-reis, do esforço e da coragem de muitos heróis, contrapondo as traições e saques violentos e incompassivos de outros portugueses, tudo sujeito às variadas formas que os condicionalismos da História o permitiram. Fá-lo-ei sem saudosismos, mas também sem desdenho pelo carácter épico dos portugueses, procurando satisfazer a curiosidade daqueles que se interessam pelas coisas daquele período em que “grandes fomos pois hoje pequenos somos”.
Opinião, por Cândido de Azevedo