“Os bombeiros de Almeirim precisam de ‘sangue’ novo e de requalificar e ampliar o quartel”

Os Bombeiros Voluntários de Almeirim comemoraram 75 anos de existência, no passado dia 6 de junho, e celebraram a data com arraial de marchas populares, nesse dia, e uma cerimónia pública no dia 10 de junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. A celebração foi o mote para uma entrevista ao comandante, Telmo Ferreira, que, desde 2022, assumiu o cargo na associação almeirinense. 

Os Bombeiros Voluntários de Almeirim comemoram 75 anos de existência em 2024. Na sua opinião, qual é a importância deste corpo de bombeiros para Almeirim?

O Corpo de Bombeiros é o único Agente de Proteção e Socorro existente em Almeirim, com capacidade de socorrer a sua população. É das associações mais importantes pela missão que desenvolve, que serve para ajudar em situações do socorro, mas que também tem de ser ajudado pela sua população. Podemos ter uma terra sem um clube de futebol, sem um grupo etnográfico, sem um grupo coral, mas não podemos ter uma população desprotegida e que não tenha alguém que lhe preste socorro. Não querendo fazer comparações depreciativas, é este o meu ponto de vista. Não podemos ser equiparados ou sequer “concorrer” como outra associação ou coletividade de índole totalmente diferente.

Quantos membros voluntários fazem parte da associação atualmente e que tipo de equipamento e veículos estão à disposição?

Neste momento, temos 68 Bombeiros no ativo. Desses, 35 são Bombeiros com vínculo profissional com a Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Almeirim o que significa que são assalariados com os seus vencimentos pagos pela entidade. Em termos de veículos afetos à área da saúde, temos no Corpo de Bombeiros, 3 Ambulâncias de Socorro, 4 Veículos Dedicados ao Transporte de Doentes Não Urgentes com plataforma para transporte de cadeira de rodas, 2 Ambulâncias de Transporte de Doentes deitados em maca e ainda 1 viatura ligeira também de transporte de doentes em que o utente pode ir sentado. No que refere aos incêndios, temos 4 veículos de combate a incêndios rurais, 1 veículo de combate a incêndios urbanos, 1 viatura de desencarceramento, 1 veículo ligeiro de dimensões mais reduzidas para artérias mais apertadas e centro histórico, 1 veículo tanque, 1 veículo de operações especificas, que tem diversas utilizações (inundações, quedas de árvores, reboque de atrelados, etc…) 1 veículo de Comando e 1 veículo de transporte de pessoal. Além destas viaturas o Corpo de Bombeiros detém 2 embarcações para responder a cenários de cheia ou ocorrências no rio Tejo ou barragens, assim como 2 moto 4 para apoiar em prevenções e patrulhamentos. No total temos 25 meios das mais diversas tipologias para prestar socorro à população do concelho.

Na sua opinião, o dispositivo tem capacidade operacional para responder a todas as ocorrências?

Neste momento, o Corpo de Bombeiros está dotado dos meios necessários para responder a quase todas as solicitações. Nunca poderemos dizer que está completamente capacitado, porque de um momento para o outro, devido à necessidade de responder por vezes, a várias solicitações em simultâneo que aparecem, podemos ter, pontualmente, falta de meios ou de recursos humanos. Para uma situação do dia a dia o corpo de bombeiros está estruturado e capacitado para responder de imediato, mas situações inesperadas acontecem a qualquer hora e estas podem requerer meios e recursos que já estão empenhados noutra situação.

Equipamentos e recursos humanos, os que existem atualmente, são suficientes ou existem carências?

Esta pergunta é pertinente, porque queremos sempre mais e melhor. Como disse anteriormente, o Corpo de Bombeiros tem os meios para responder às situações do dia a dia, mas em caso de ocorrer alguma situação de exceção, o sistema está organizado de forma a responder com outros Corpos de Bombeiros ou Agentes de Proteção Civil e é assim que se complementa o socorro. 

Quais são os principais desafios que se levantam aos BVA nos próximos tempos?

O corpo de Bombeiros, neste momento, conta com 68 elementos no seu quadro ativo, alguns de nós já contam com 25, 28, 30 e até com 40 anos de serviço. Isto quer dizer que existe uma geração de Bombeiros que está a envelhecer, mas, pelo ciclo natural da vida, dentro de algum tempo, temos saídas que têm de ser substituídas com “sangue” novo. A profissão é atrativa nas camadas jovens, pelos convites que nos fazem para irmos aos jardins de infância, escolas e também as visitas no quartel. A receção que temos, leva-nos a acreditar que os jovens até gostam. É certo que quando efetuamos ações de recrutamento, existe intenção dos jovens de ser Bombeiro, mas depois, quando lhes explicamos o processo formativo, alguns desistem logo e outros no caminho da formação. É um processo de 9 meses, onde a formação é dada, essencialmente, à sexta-feira à noite, sábado e domingo durante o dia. Os jovens de hoje, não estão para perder fins de semana, durante 9 meses. Depois ainda têm o estágio durante 3 meses que, por norma, é no verão e lá se perdem mais uns quantos dias. Outro desafio é a ampliação e remodelação do quartel. O existente conta com mais de 40 anos, embora tenha sido uma obra importante quando inaugurado (1983), está limitado no espaço existente. Hoje temos mulheres nas fileiras e o quartel, quando construído não estava, nem previa camaratas e balneários femininos, tivemos de nos adaptar e fazer essas obras. A sala de formação e mesmo o parque de viaturas estão no limite, resumindo, é mesmo preciso ampliar as instalações.

Uma das necessidades dos BVA é o recrutamento de novos elementos. Como é que se pode atrair mais voluntários para a corporação?

Tentamos promover a nossa atividade nas escolas e queremos estar mais próximos da população. Mostrar o que fazem os bombeiros para haver o tal “sangue” novo. Mas os sacrifícios que os bombeiros fazem nas suas vidas pessoais e familiares, leva a que existam também bombeiros que desistam. Também no tal processo formativo que falava há pouco, pela exigência que tem, não facilita a entrada e a continuidade dos jovens. Nos dias que correm, existem inúmeras atividades que podem ocupar os tempos livres dos jovens. Com menos exigências e menos responsabilidade. Existe, por isso, necessidade de atrair jovens e, para que tal aconteça, temos de incentivar criando benefícios sociais. Esses benefícios podem-se traduzir em redução do IMI para quem tenha habitação própria, reembolso de propinas no ensino superior, entradas gratuitas em museus, espaços desportivos, culturais etc… Mesmo assim é necessário gostar da profissão, e olhar para estes incentivos como uma compensação pelo tempo despendido na atividade.

De que forma a associação se envolve com a comunidade local? Têm previstos mais eventos e iniciativas ao longo do ano?

É isso que tentamos fazer. Não queremos estar fechados no quartel, queremos interagir com a comunidade. Seja em provas desportivas, festas, ou outro tipo de prevenções. Este ano, pelo facto de se assinalar o 75º Aniversário da Associação propusemo-nos realizar várias atividades. Já em maio, realizamos uma festa na Arena d’Almeirim, em junho a atuação de Marchas com a nossa oferta de bolo de aniversário distribuído aos presentes. Realizamos um projeto de uma roulotte para venda de comida e bebida e assim, percorrermos festas populares em todas as freguesias do Concelho e, inclusive, a nossa cerimónia solene, pôde contar com população, que era isso mesmo, residentes em Almeirim e que não têm nenhuma ligação familiar com os nossos Bombeiros, mas quiseram estar presentes. Nunca poderemos fechar o quartel e ir para as festas, mas tentamos estar presentes quando elas acontecem. Ainda estamos a planear mais algumas atividades para o ano de 2024, mas não temos nada certo, pois a atividade operacional nos próximos 3 meses obriga-nos à dedicação em pleno daquilo que são os incêndios rurais. Mas gostaríamos, após o verão, de realizar mais uma ou 2 atividades, obviamente também pensadas para envolver a nossa comunidade. 

O Telmo é oficialmente comandante desde abril de 2022. Que balanço faz destes dois anos à frente da corporação?

O balanço que faço é naturalmente positivo. É um cargo de enorme responsabilidade que dá bastante trabalho, temos de lidar com todos os bombeiros e cada um com a sua personalidade. O facto de ser Bombeiro desde jovem e ter escolhido este caminho acaba por tornar a função mais fácil, contudo é extremamente exigente e requer além do normal, muitas horas de sacrifício da vida pessoal e familiar. Todo o trabalho desenvolvido pelo Comando do Corpo de Bombeiros é feito com dedicação, mas não é feito apenas por mim ou pelo 2º Comandante. Temos a sorte de ter uma geração de bombeiros bem formada e com conhecimentos técnicos muito bons e, são também esses Bombeiros que ajudam o Comando no desempenho de algumas funções que lhes são delegadas. Não é um trabalho apenas e só do Comandante e do 2º Comandante, mas sim de um grupo de Homens e Mulheres que proporcionam os resultados alcançados.

Que percurso fez para chegar até aqui?

Entrei para a corporação com 14 anos de idade, no dia 25 de outubro de 1993, durante 4 anos fui cadete e aos 18 anos, tornei-me oficialmente Bombeiro de 3ª. Em 2003, concorri, juntamente com os meus colegas, à promoção a bombeiro de 2ª e, posteriormente, em 2005, sou convidado pelo Comandante José Vitorino para me tornar adjunto do Comandante. Em 2006, com nomeação do Comandante Jorge Costa, sou convidado novamente para também ser seu Adjunto e desempenhei essas funções durante 16 anos até ao ano de 2021. Nessa data, o Comandante Jorge Costa, pede para deixar o cargo que ocupava no Corpo de Bombeiros o 2º Comandante à data, o Luís Bento, pede também a passagem ao Quadro de Honra do Corpo de Bombeiros por indisponibilidade devido à sua vida profissional. Nessa altura, restando e sendo o único elemento de Comando do Corpo de Bombeiros que se mantinha, a Direção da Associação formaliza-me o convite para ser o próximo Comandante e, a partir de abril de 2022 sou então nomeado Comandante do Corpo de Bombeiros de Almeirim.

Para além de comandante, é também Coordenador Municipal de Proteção Civil. O facto de ter as duas funções é uma mais-valia?

O facto de desempenhar funções de Coordenador Municipal de Proteção Civil acaba por facilitar a tomada de algumas decisões. Em alguns municípios, está assente em 2 pessoas diferentes, o Coordenador Municipal e o Comandante dos Bombeiros que podem ter opiniões contrárias na resolução de alguma situação. No caso do município de Almeirim, sendo o Coordenador Municipal e o Comandante dos Bombeiros a mesma pessoa, a tomada de decisão é mais célere e, obviamente, no mesmo sentido. 

Considera que a população está desperta para o conceito de proteção civil?

Não. A maioria das pessoas pensa que a Proteção Civil são os Bombeiros e são entidades diferentes. A Proteção Civil atua na prevenção, é mais incisiva em ações preventivas e, posteriormente, a gestão de situações de socorro e posterior recuperação, enquanto a missão dos Bombeiros é aquela que todos conhecemos, é de socorro às suas populações quando existem necessidades. Sendo os Bombeiros o principal agente de Proteção Civil talvez, seja essa a confusão feita pela sociedade.

Que mensagem gostaria de deixar a todos os que consigo trabalham e à população de Almeirim?

A mensagem que gostaria de deixar é que continuem a desempenhar as funções de bombeiro, da forma tal como foram ensinados, que tenham orgulho na farda que vestem e que, acima de tudo, a vida é uma passagem por isso não vale a pena preocupar-nos com coisas fúteis, quando a nossa missão é apenas AJUDAR O PRÓXIMO. À população de Almeirim quero dizer apenas, que pode contar com o Corpo de Bombeiros, pois este está capacitado dos melhores homens com os melhores e dos técnicos conhecimentos para desempenho das funções que nos são confiadas.