No dia 7 outubro, poucas horas depois da imprensa dar a notícia, a Câmara Municipal da Santarém considerava que este era “um dia histórico” com o anúncio do investimento de 85 milhões de euros do projeto agroalimentar, desenvolvido pela 52 Fresh, para a construção da fábrica de cenouras bebé no concelho. A primeira unidade de processamento de cenoura baby da Europa, que estava a ser pensada para Almeirim, vai ser construída na freguesia de Pernes, concelho de Santarém, levando à criação de 200 postos de trabalho, que podem chegar aos mil, quando a fábrica estiver em pleno funcionamento.
A proibição de fazer furos de captação de água na margem sul do tejo por parte da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) está na base desta decisão.
Pedro Ribeiro, em comunicado, garantiu que “o que era da nossa competência foi tudo feito. Inclusive, assinado o contrato de financiamento com o AICEP.”
Pedro Ribeiro detalha que “ainda antes de o tema da água ser tema propusemos e foi aceite pela Fresh e pelo vendedor do terreno, a Quinta da Alorna, que a água resultante do processo de lavagens das cenouras fosse reaproveitada para a rega. E repito. Ainda a água não era tema. Posteriormente, o promotor perdeu o financiamento e tudo voltou à estaca zero. Mais uma vez tudo fizemos para ter cá a fábrica.”
O presidente da Câmara de Almeirim explica que, entretanto, surgiu a proibição de fazer furos nesta margem do rio: “Nós, o promotor e os agricultores que têm as licenças de água que era possível fazer neutralidade hídrica. Algo que nunca se conseguiu explicar a quem, em Lisboa, não quer, não sabe e sobretudo não se preocupa em perceber. É sempre mais fácil dizer não. Até porque esse não em nada muda as vidas destas pessoas que dizem não. Culpa dos políticos, de todos os partidos que foram deixando que tudo isto lhes passe ao lado e escudados em técnicos nada decidem. Haverá o dia que algo mudará em Lisboa. Espero que não seja preciso um “terramoto”.O promotor precisa de água. Em Almeirim e em toda esta margem do Tejo não a tem porque é proibido fazer novos furos. Quem tem 100 Milhões para investir quer certezas. Perfeitamente normal. Da nossa parte, a empresa com o projeto aprovado podia começar amanhã a construir. Mas sem água não pode como é óbvio. Perdemos esta, haveremos de ganhar outras”.
Em comunicado, João Teixeira Leite, presidente da Câmara de Santarém, referiu que, ao longo dos últimos meses, o município esteve a desenvolver “todos os esforços para trazer este investimento para Santarém”, acrescentando que, nos últimos dias, “foram dados passos determinantes”.
“O investidor já apresentou no município um PIP, e este está em condições de ser aprovado, a APA já deu parecer favorável a diversos pedidos de informação sobre a viabilidade da atividade, e o Governo já comunicou, através da Secretaria de Estado do Ambiente sobre a viabilidade da nova localização. Reconheço o esforço das entidades envolvidas, da administração pública em particular, que através de um diálogo colaborante e assertivo criaram, connosco, todas as condições”, pode lêr-se na mesma nota.
Já Yannick Le Mintier, diretor geral da 52-Fresh, afirmou que “a capacidade do presidente de criar soluções proporcionou à Fresh 52 a confiança de que o nosso investimento em Santarém seria bem acolhido”. “A atitude proativa do Presidente e da sua equipa ficou evidente pelo facto de, em apenas 40 dias, superar todos os obstáculos que encontrámos. Estamos muito satisfeitos por finalmente poder implementar, aqui em Santarém, aquela que vai ser a terceira operação mundial”, adianta o responsável da empresa.
O autarca salienta que, os contratos de promessa compra e venda dos terrenos já foram assinados e que a fábrica terá uma área total de 50 hectares.
Em 2019, no salão nobre da Câmara de Almeirim, era feito o anúncio e assinados documentos que davam conta da construção da unidade em Almeirim. Com pompa e circunstância anunciava-se que Almeirim ia ter uma agroindústria de exportação de cenouras bebés com uma tecnologia única em Portugal. O secretário de Estado da Internacionalização da altura, Eurico Brilhante Dias, sublinhava que este investimento de cinquenta milhões de euros fará de Almeirim “o maior produtor de ‘baby-carrot’ (cenouras bebé) da Europa”. O contrato entre a americana 52-Fresh e a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) que estabelece incentivos do Estado português foi assinado a 25 de Junho, na câmara municipal.
CDU destaca importância da água
Em comunicado, a CDU de Almeirim manifestou a sua preocupação com o uso da água no concelho.
“Foi divulgado publicamente nos órgãos de comunicação social regional que o investimento por parte da 52-Fresh já não se irá realizar no concelho de Almeirim. Um dos motivos para tal terá sido a ausência de autorização da APA, entidade pública que é responsável pela implementação das políticas de ambiente em Portugal. Também de acordo com a informação veiculada, esta entidade terá colocado impedimentos no licenciamento de novos furos artesianos para captação de água, em particular nos territórios a sul do rio Tejo, o que é o caso no nosso concelho. Compreendemos o que está em causa quando se pretende preservar um bem fundamental à vida, como é a água, pelo que a sua gestão é essencial. A CDU está preocupada que já exista no concelho, a ocupação de áreas por culturas de amendoal intensivo, culturas que saturam os solos, gastam água e que, também, por uso intensivo dos pesticidas contaminam solos e águas. Acreditamos que os agricultores do nosso concelho que investiram tendo em conta a implementação desta empresa agroindustrial não irão ficar de braços cruzados, mantendo as expectativas de escoar a sua produção. Certamente outras formas de negócio, que ajudem económica e ambientalmente o desenvolvimento de Almeirim irão surgir de futuro”, lê-se na nota.