Quando decidiu ir para o Seminário, o pai ficou dividido: “Uma das coisas que ele gostou, até porque antes de ser padre temos de fazer a formação para tal e ir para o Seminário, foram as regras que o Seminário trazia. O meu pai é militar, eu também cresci nesse meio militar, por isso a porta de entrada para o meu pai aceitar foi essa mesmo. Ou seja, as regras que fazem bem.”
Bruno Filipe foi ordenado Padre a 18 de julho de 2021. “Este dia não é o culminar, é um ponto de chegada para lançar o próximo caminho. E digo isto porque aquele dia não faz sentido sem tudo aquilo que foi vivido antes, em termos de preparação, em termos de oração, em termos de relação com Deus, com a comunidade, com o trabalho pastoral. Mas este dia foi esse ponto de chegada, mas mais até um ponto de lançamento.”
Ainda criança e jovem, fez o Batismo, foi para a catequese, andou na catequese, fez a primeira comunhão, a profissão de fé e depois “um negócio com a minha mãe para sair da catequese. E ela aceitou, foi na onda. Qual é que foi esse negócio? O negócio foi… Olha, eu já tenho muita coisa. Estudava música, estava no instituto a aprender inglês e tudo mais, a catequese é mais uma coisa. Eu nem gosto tanto disto. Olha, depois sei que há uma coisa que quando tivermos 18 anos podemos voltar e fazermos o Crisma, a catequese e vai direto”, revela.
As contas da aposta foram cumpridas, mas só até aos 19 anos.
“Tinha a mãe da namorada também a insistir e pronto, lá vou, tenho que ir”, descreve a sorrir admitindo que “foi uma relação importante que me fez crescer bastante, como homem. E como amigo também, porque são coisas que nós, muitas vezes, damos por adquiridos, já sabemos, basta sermos quem somos.”
Nos últimos anos tem trabalhado no concelho, em particular em Fazendas, Paço dos Negros e Raposa, uma freguesia que não conhecia: “Eu confesso que descobri que, por exemplo, a Raposa existia quando o Sr. Bispo me disse que vinha para uma paróquia da Raposa. E eu tive que ir ver onde é que ficava. Marianos, também nunca tinha ouvido falar. Paço dos Negros, conhecia algumas pessoas que eram de lá, jovens, com quem me tinha cruzado nos meus tempos também de pastoral juvenil. Nas Fazendas tinha estado uma vez ali na zona do Canto Negro, quando fui ao café. E pronto, era aquilo que eu conhecia das Fazendas. E depois houve outra vez que fui andar de moto e acabei nas Fazendas. E lembro-me de pensar assim, isto nunca mais acaba. Esta reta é sempre em frente, sempre em frente, sempre em frente. Até que cheguei a Almeirim, depois de desesperar ali um bocadinho.”
Hoje está totalmente integrado, mas no início, nem tudo foi fácil, embora a pandemia tivesse ajudado. “Ninguém me viu a cara quando eu cheguei, porque chegámos em plena pandemia. Com máscara, e aquilo foi assim, ao início.”
Isso até terá ajudado. “Alinhou-se tudo para me sentir, também, dessa forma, bem acolhido. Porque as pessoas queriam estar juntas, estavam fartas de estar em casa, queriam uma desculpa para se encontrarem, e pronto, como gosto de ser próximo e gosto de andar pelas festas, pelas associações, ir conhecendo as pessoas e estar perto delas, foi tudo ótimo. E as pessoas mais velhas, permita-me aqui, é esta a existência. Mesmo os mais velhos receberam-me bem… É claro que, muitas vezes, vem aquela coisa, este gaiato para aqui, o que é que ele percebe disto… E sim, várias pessoas o manifestaram ao início. Por exemplo, uma grande parte da minha missão, o confessar pessoas, a conversa pessoal, individual, sobre a vida, sobre as circunstâncias da vida de cada um.”

E o pároco explica com mais detalhe: “ É claro que, ao início, e de vez em quando isso acontece, há essa estranheza. Então, vem uma pessoa de 60, 70 anos falar com um gaiato de 30, sobre a vida dela… O que é que este gaiato vai ensinar-me, o que é que este gaiato tem para me dizer? E fui fazendo a descoberta, ou seja, eu fui fazendo essa descoberta e as pessoas também, de que não sou apenas um gaiato, e não quero dizer que sou mais do que um gaiato.”
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