Quando formou governo em 2015, o PS assinou três acordos de incidência parlamentar com o PCP, BE e Verdes, o que lhe permitiu governar, durante quatro anos, sem grandes sobressaltos. Estávamos numa fase de retoma da crise, iniciada ainda no governo PSD/CDS-PP, e foi fácil dizer “sim” às exigências dos parceiros da geringonça: aumentos salariais e reposição das 35 horas na função pública, aumentos das pensões, entre outras.
Em 2019, os socialistas, que ficaram próximos da maioria absoluta, optaram por não firmar nenhum acordo e negociar orçamento a orçamento. Afinal, se durante uma legislatura conseguiram a concordância dos seus camaradas, tal também seria possível agora.
Só que a pandemia entrou nas nossas vidas e, com ela, a recessão económica. Há menos receitas e mais despesa e, como tal, têm de ser feitas escolhas. Já não se consegue acomodar a maioria das reivindicações da esquerda e, sinónimo disso, foi a dificuldade em conseguir a aprovação na globalidade do OE 2021, apenas com os votos a favor do PS e as abstenções
do PCP, PAN, Verdes e das deputadas não-inscritas.
Se as exigências do PCP e do BE ainda podem ser entendidas do ponto de vista das suas ideologias políticas num quadro de discussão orçamental, as do PAN passam por querer, como moeda de troca da sua abstenção, proibir que os menores de idade assistam e participem em touradas.
Isto, a ser verdade, tem apenas um nome: chantagem! (voltarei a este
tema na próxima quinzena).
Humberto Neves
PSD Almeirim
Artigo de opinião publicado na edição impressa de 15 de novembro de 2020