MÚSICA Nuno Rodrigues tem 36 anos, é natural de Almeirim e desde cedo que dedica a sua vida à música, sendo uma das figuras nacionais mais proeminentes no panorama do Heavy Metal e do Rock português. Com uma vasta experiência nacional e internacional, o seu percurso artístico é feito de histórias e de aventuras que nos permitem acreditar que todos os sonhos são possíveis.
Quando é que começaste a sentir que a música era o teu caminho?
É difícil avaliar o momento exato. Desde cedo que gosto de música e sempre tive uma inclinação mais sensível para os vários tipos de arte: da música, à literatura ou ao cinema. Senti-o como um chamamento, como se fosse uma coisa inata em mim.
Dito isto, tive a minha primeira banda aos 17 anos e, desde aí, iniciei o meu trilho no Heavy Metal, abraçando,
agora, novas experiências e novos projetos como, por exemplo, Pântano.
“Este caminho foi feito com muito sacrifício, perseverança e, acima de tudo, fé“
O teu percurso é longo e já pisaste vários palcos nacionais e internacionais. Como é que foi feito este caminho?
Este caminho foi feito com muito sacrifício, perseverança e, acima de tudo, fé. Vindo de uma “terra maldita”, senti a não necessidade de aprovação mas uma demanda com urgência.
Aos 17 anos criei a minha primeira banda, WAKO, a qual ainda se mantém, criando um mote crescente de trabalho que me levou a palcos, como o Coliseu dos Recreios, as sucessivas tours pelo Reino Unido e os Estados Unidos da América, intercalando com obras discográficas que me fizeram vislumbrar o sentido de tudo o que fazia e o reconhecimento do valor das minhas conquistas. Mais recentemente, tive o privilégio de atuar no MEO Arena, no maior festival do género já feito em Portugal.
Chamaste Almeirim de “terra maldita”. Sentes que seres de cá te condicionou de alguma forma?
Não o digo de uma forma depreciativa mas como uma antítese que parte de um significado e culmina noutro. O
facto de crescer nesta terra a ver um constante fluxo de artistas emergentes que, devido à condição cultural da mesma, provavelmente não tiveram o devido apoio para atingirem o propósito da sua arte, resolvi, baseado nestas
fundações, sair daqui e construir o meu próprio caminho.
Por isso, a “terra maldita” deu-me a força e o foco necessários para não me acomodar e construir o meu próprio caminho e sair daqui.
Agora voltaste. Aplica-se aqui o ditado “O bom filho a casa torna”?
Depois de todas as experiências e sucessões de eventos na minha vida, esta terra exerceu um magnetismo ao meu regresso. Senti que precisava de assentar, de criar contacto com as minhas raízes e com a minha família para ressurgir com uma nova obra que, de alguma forma, está ligada a esta terra: Pântano.
“A sua significância é a minha constante procura pelas coisas mais simples que vão do encontro da parte mais humana e mais emocional das pessoas”
Que obra é esta?
A banda Pântano consegue ligar muitas influências e referências que vã desde o “feeling” da música dos anos
90, ao cinema, à literatura e ao mundo fantástico do folclore ribatejano.
Enfim, coisas que ficaram alojadas no nosso imaginário e que tendem a desaparecer nos dias de hoje, resultando numa espécie de bestiário sensorial que poderá abranger vários gostos musicais. É uma banda recente mas que, desde o princípio, teve uma aceitação inesperada, criando uma empatia simples e envolvente com vários tipos de público. A sua significância é a minha constante procura pelas coisas mais simples que vão ao encontro da parte mais humana e mais emocional das pessoas.
“Quero acreditar que Pântano é só o início de muitas outras coisas que poderão vir por aí”
WAKO e Pântano são completamente diferentes. O que te levou a enveredar nesta nova aventura?
WAKO foi sempre, para mim, um processo mental. Pântano é uma via para o coração. Dito isto, a maturação de ideias, o desapego do ego, da pretensão e da obsessão em atingir determinados objetivos, libertou-me ao ponto de desafiar-me e transfigurar-me para perceber quais são os meus limites e capacidades. Quero acreditar que Pântano é só o início de muitas outras coisas que poderão vir por aí.
Em WAKO cantas em inglês. Pântano é totalmente português. Foi desafiante?
Sim, completamente! Ir de um extremo ao outro é o maior dos riscos, mas como sempre enfrentei a vida sem
medo de errar, resolvi pôr-me à prova. Quer em WAKO, quer em Pântano sou eu que escrevo as minhas próprias
letras. Para Pântano, estive sempre amedrontado pelo resultado final poder ser, de certa forma, meio “azeiteiro” mas confiando nas minhas bases literárias e gosto pela escrita, tentei fazer o melhor para chegar ao âmago
de mim mesmo e acredito que o resultado é muito bom.
Vejo nas letras de Pântano uma mensagem de amor e de autossuperação que me conecta, cada vez mais, com o verdadeiro interior das pessoas e, nisso, a nossa língua é o melhor dos instrumentos.
“Estimo a iniciativa criada (Quarentena Alive) (…)”
Pântano foi uma das bandas convidadas a atuar na iniciativa “Quarentena Alive” e foi a estreia deste projeto em Almeirim. O que é que sentiste?
Senti reconhecimento e gratidão, porque, apesar de já ter pisado os palcos maiores e mais afamados, há sempre um sentimento especial em poderes atuar na tua própria terra. Estimo a iniciativa criada que, em tempos tão sombrios quanto insólitos, beneficiou os artistas da terra e fizeram-me sentir novamente a emoção de pisar um palco. Fomentou esperança em nós, mas também fez acreditar aos artistas emergentes de Almeirim, que é possível sonhar e, como digo a mim mesmo: “as portas que abri, mesmo não tendo alcançado tudo o que queria, ficarão sempre semiabertas para os que hão-de vir.
“Sou uma pessoa que vive sem expectativas porque já não me interessa o fim do caminho mas sim o seu percurso”
A cultura foi dos setores mais afetados por esta Pandemia. De que forma afetou o teu percurso e o teus projetos?
Esta pandemia apareceu numa altura em que WAKO estaria, provavelmente, no seu apogeu e Pântano em considerável expansão. Assim, tive que me adaptar, desdobrando-me em outros tipos de trabalhos. Neste momento, trabalho numa superfície comercial para garantir estabilidade financeira. No entanto, continuo a ser a pessoa que chega a casa todos os dias, faz a sua meditação, e continua o seu processo criativo.
Tenho uma incessante vontade de estabelecer novos objetivos, um maior entendimento do que realmente importa e interessa nas nossas vidas. O meu pai partiu, logo de seguida veio a pandemia, e todas estas circunstâncias fizeram-me reinventar, estando numa ininterrupta mutação que se revelará nos meus próximos trabalho.
E que trabalhos e projetos são esses que tens para o futuro?
Como referi, essa mutação será projetada num novo disco de WAKO e no disco de estreia de Pântano. Simultaneamente, começo a dar os meus primeiros passos na literatura, escrevendo o meu primeiro romance.
Quais são as tuas expectativas?
Sou uma pessoa que vive sem expectativas porque já não me interessa o fim do caminho mas sim o seu percurso.
Entrevista de Ana Rita Amaro