Porquê?

Em democracia, vota-se em eleições legislativas para eleger os deputados à Assembleia da República. Daí sairá um governo. A política implica negociação e compromisso. Os deputados dos vários partidos devem falar entre si para encontrar pontos de convergência que permitam que o País siga em frente. Os deputados devem representar Portugal e não a si próprios. Devem ser responsáveis nas suas posições, a bem do País. Infelizmente, nem sempre isso acontece, como se viu na trapalhada da votação do Orçamento do Estado para 2022. O PS colocou-se numa posição radical em que se recusou a falar com o PSD. Os partidos à esquerda do PS (PCP/PEV e BE), devido à sua fraca prestação eleitoral nas autárquicas, decidiram endurecer as suas posições a um ponto em que, se as suas pro- postas fossem aprovadas, as despesas orçamentais seriam de tal forma elevadas que se tornaria impossível aceitar. O PS viu-se obrigado a recusar as mesmas. Mas o mais incrível foi a ameaça, concretizada, do Presidente da República de dissolver o Parlamento, marcando novas eleições. O que pode explicar tal ameaça? De facto, ela não faz sentido nem do ponto de vista político nem constitucional. O PS deveria ter tido uma oportunidade de apre- sentar um novo Orçamento, mas agora falando com todos os partidos, sem posições radicais. Nada obriga o Presidente a dissolver o Parlamento por não ter sido aprovado um Orçamento. O País poderia prosseguir sem o mesmo, sendo aplicado o Orçamento do ano anterior. Não sendo uma solução boa, não seria uma catástrofe. Mas o pior é que, se as sondagens estiverem certas, nenhum partido terá maioria absoluta, ou seja, o Orçamento para 2022 terá de ser negociado entre os vários partidos. Se assim é, porquê a dissolução?