A presidente da Cáritas Portuguesa alerta para o risco de agravamento da situação das famílias se o preço dos bens alimentares não descer e mostra-se preocupada com a possível falta de recursos para impedir novos casos de pobreza.
Em entrevista à Lusa, nas vésperas de arrancar um novo peditório a nível nacional, Rita Valadas faz uma avaliação preocupante da atual situação social do país e revela que o seu maior receio para este ano é que faltem recursos para ajudar todas as pessoas que precisam.
“Aquilo que me preocupa é nós não conseguirmos ajudar as pessoas a não cair numa situação de pobreza, que é o nosso interesse em relação a estas novas situações que nos aparecem”, afirmou.
A responsável salientando que a luta da Cáritas é não só evitar novos casos de pobreza, mas também que consigam fazer a retoma da sua situação pessoal.
“Preocupa-me muito que nós não tenhamos os recursos suficientes para fazer esse papel, preocupa-me a pressão que existe sobre os atendimentos e alguma conflitualidade decorrente da situação de pobreza, que existe”, acrescentou.
A propósito da recente descida do valor da inflação, Rita Valadas alertou que se esse abaixamento não tiver efeito nos bens essenciais, “bem pode descer que não resolve nenhum problema”.
“Esta descida que houve, que foi reportada nesta semana, não tem consequência, por exemplo, ao nível dos bens alimentares. Bem pode descer, se os bens alimentares crescem, a situação fica pior”, constatou.
A presidente da Cáritas alertou também para aquilo que considera ser uma certa desorganização de recursos, dando como exemplo o que aconteceu no início da guerra na Ucrânia, em que houve uma onda de solidariedade feita de “iniciativas pontuais, que não se congrega[ra]m”.
“Não se congregando podemos estar a criar desperdício e não apoiar as situações mais vulneráveis”, destacou, defendendo que “tem de haver alguma maneira” de evitar repetir o que aconteceu nessa altura.
Nesse sentido, disse que a Cáritas tem vindo a fazer “um esforço” para juntar as várias “redes que existem”, de forma a ser possível “fazer a diferença com os poucos recursos que há”, salientando que o país está também “em fase de não ser muito fácil as pessoas ajudarem”.
Rita Valadas referiu ainda que o trabalho da organização é em prol tanto de portugueses como de estrangeiros, “numa aposta contínua na retoma das situações de risco e na inserção das situações que têm potencial para isso”, admitindo que não conseguem resolver todas as situações por causa da falta de meios.