Sérgio Teodósio veste-se, há quatro anos, de Pai Natal no Mercadinho Encantado, em Almeirim. Em casa nunca vestiu esta personagem mas até já tem barba natural.
Como surgiu o convite para ser o Pai Natal?
Em 2020, recebi uma chamada da Fátima Neves a dizer que me queria propor uma coisa que ela achava que era mesmo a minha cara. Contou o pretendido e eu aceitei na hora.
Qual foi a sua reação na altura do convite?
Estranhei, mas embarquei logo na aventura.
Já em casa se tinha vestido de Pai Natal?
Em casa, nunca me vesti de Pai Natal, mas esta não foi a primeira vez que o fiz. Já o tinha feito há uns 20 anos atrás, num estabelecimento comercial de Almeirim. O dono dessa casa que já não existe, como me conhecia, lançou-me o desafio de estar aos sábados na loja dele com um fato de Pai Natal, cumprimentar os clientes que passavam e, claro, estes acabavam por entrar. Aliás, foi uma experiência gira e caricata, a minha filha, na altura, era muito nova e foi à loja ver o Pai Natal, assim que abri a boca a reação dela foi: “É o meu pai, não é o Pai Natal”, reconheceu só pela voz, com a loja cheia, foi a risada geral.
No início a barba não era verdadeira?
Não, nos primeiros anos usámos uma barba falsa, que vinha juntamente com o fato.
Agora já é?
Primeiro veio o fato que foi feito por uma costureira privada, depois pensamos, como já tenho o cabelo todo branco, vou experimentar se a barba também está e deixei crescer. Como estava já praticamente toda branca arriscamos, fiz a proposta à MOV Almeirim de ser barba verdadeira, sempre na condição de, caso não ficasse bem, usávamos a falsa. Mas acabou por ficar bem e já o ano passado foi barba verdadeira.
Como a prepara?
Normalmente não uso barba. No ano passado, a 25 de dezembro, cortei a barba. Este ano, vai pelo mesmo caminho. O resto do ano não tenho barba, a preparação começa no fim do verão e os cuidados são apenas pentear diariamente para não enrolar.
O que é para si o Natal?
O Natal sempre foi aquele momento de juntar a família, mas com o passar dos anos, a família foi-se afastando e nem sempre é possível conciliar todas as agendas. Mas não deixa de ser um momento de confraternização familiar. Para já, não existem crianças, quem sabe num futuro próximo a tradição tenha de voltar a ser como era há uns anos atrás quando o Pai Natal descia pela chaminé durante a noite.
Já recebeu outras propostas ?
Sim, já fui sondado para ir para outros lados, mas não era compatível com o meu horário de trabalho. Mas sim, já fui sondado por outros municípios, e por agências da capital que mostraram o seu interesse. Para já, não pensei a sério no assunto. No futuro, quem sabe…..
Depois desta quadra passar, há crianças que o reconhecem? Que lhe dizem?
Por acaso, as únicas que me reconhecem são aquelas que os pais dizem logo quem é que está no fato. Tirando essas, nunca aconteceu terem-me reconhecido, ou se o fizeram não comentaram nada. Curiosamente, antes da quadra, aí sim, já tive crianças a perguntar se eu era o Pai Natal, porque deixar crescer o cabelo e a barba demora tempo, e nos últimos dias de novembro, já tive crianças a olhar para a barba e a dizer que era o Pai Natal. Mas apenas duas vieram mesmo junto a mim perguntar se eu era o Pai Natal, porque é que estava com outra roupa e onde estavam as renas.
Do passeio do início do mês de dezembro recebeu uma mensagem marcante. Quer partilhar e explicar o que sentiu?
Acima de tudo senti surpresa e satisfação. A MOV Almeirim decidiu contratar uma bandinha para alegrar algumas das ruas da cidade e eu acompanhei a banda. Numa das ruas, estavam uma senhora e uma criança à janela, e como eu levava uns rebuçados para oferecer às crianças, já não sei se era um primeiro ou um segundo andar, mas mandei os rebuçados pela janela. E isso aconteceu várias vezes ao longo do dia. Qual não é o meu espanto de, no facebook, receber uma mensagem de uma mãe que dizia “Obrigada, o meu filho foi operado e não pode sair de casa, ele ficou tão feliz com a visita”, do Pai Natal e da bandinha e com os rebuçados. São momentos como este que nos enchem de alegria e satisfação. Eu apanhei umas dores nas pernas, mas aquela mensagem fez esquecer tudo isso.