Fecho de ciclo: “Wako para sempre”

No mês passado, o almeirinense Nuno Rodrigues com os WAKO atuou numa Meo Arena quase esgotada para fechar o ciclo deste projeto músical. Fomos fazer um balanço e perceber o que vai por aí. Os W.A.K.O. foram formados em 2001, tendo editado o EP “Symbiotic Existence” (2004) e os álbuns “Deconstructive Essence” (2007) e “The Road of Awareness” (2011). Durante o seu período mais ativo foram uma das bandas mais aclamadas pelo público e imprensa nacional, fruto da qualidade do seu Groove Metal e atuações ao vivo.

Nuno, o que sente quando ainda falamos da noite de despedida numa Meo Arena quase esgotada?
Ainda aparenta ser um estado de sonho, como um sonho dentro de um sonho.

Como descreve essa noite?
Foi uma poção emocional composta pelos mais variados elementos. Bateu a nostalgia e a melancolia que foi borbulhando, transformando-se numa saudável fúria libertadora. A preparação de todo o espetáculo, fazer as coisas pela última vez, como da primeira se tratasse. O cuidado e primor para que tudo fosse perfeito, culminando na entrega total para uma gigante e entusiasta moldura humana, acolhendo-nos da forma mais autêntica, elevando-nos como homens e artistas. Foi lindo!

Entrou nervoso em palco?
Senti aquele bichinho mas agora domado, invocando as primeiras sensações de atuar para o grande público. Seguindo-se uma serenidade, uma paz interior, a aceitação por o que estaria prestes a acontecer.

Há uma imagem marcante. O público de braços no alto e o Nuno no centro do palco de braços abertos. Aceita o desafio de escrever uma legenda para esta foto?
WAKO é para sempre!

Fotos: Beatriz Mariano

Pode recuar 22 anos e explicar como surge o projeto Wako?
Foi numa fase que é tão bela quanto ingénua para grande parte de nós, a adolescência. Os encontros em casa dos amigos, a ouvirmos um álbum acabado de sair, um rito festivo que praticávamos todos os fim-de-semanas. Até que um dia decidimos aplicar todas essas impressões e gostos partilhados num projeto capaz de albergar tamanho sentimento pela música.

Como foram os primeiros anos?
Foi em tenra idade que comecei esta aventura, e como qualquer outra banda ou projeto artístico, deparamo-nos com imensas dificuldades. Sendo a banda originária de uma terra remota dos grandes polos dinamizadores da cultura, não haver sítios e recursos para tocar na nossa área, ainda hoje é um problema que prevalece. Ao mesmo tempo, isso deu-nos o mote para uma fulgurosa emancipação da nossa carreira. Sair, conhecer, criar e expandir. O início foi uma fantástica jornada, uma boa luta.

Nessa altura podia imaginar que iriam tocar no Meo Arena quase cheio?
Não vislumbrava ainda uma arena quase lotada, mas tinha uma vívida e ardente crença, que, com paixão e muito trabalho, iria pisar palcos desta dimensão. Revisito um determinado momento em estávamos a tocar num sitio mais humilde e, no findar do dia, virámo-nos uns para os outros e dissemos” Daqui a um ano estaremos no Coliseu dos Recreios” Dito e feito, tal era o nosso empenho e vontade de querer e fazer as coisas acontecerem.

Quais os melhores momentos vividos pela banda?
É difícil nomear, foram indescritíveis experiências. Posso citar a tour nos Estados Unidos e primeira em Inglaterra. O concerto nos Açores, as atuações no Coliseu dos Recreios, na Meo Arena em 2019 e, certamente, este último na mesma. O acordo com a célebre Dean Guitars e a visita guiada à respetiva base em Orlando, Flórida. Mas acho que o pináculo da nossa carreira, foi sentir carinho do público ao longo de todos estes anos. É um amor sem comparação.

Nestas história podem também existir coisas menos boas. Existiram?
Sim, imensas. Já sanadas, fizeram parte de todo um processo de fazer-me crescer e criar um maior foco e objetividade em mim.

Porque decidiram parar este que é dos maiores projetos do Rock e Heavy-Metal nacional?
É saber fechar um ciclo, para dar espaço e força a outros mais. Como quase tudo na vida, perceber que tudo tem o seu tempo, que nada é eterno, vale-nos o legado que edificamos nesta nossa passagem. Sair pela porta grande, deixando a nossa estória bem cravada, perpetuada na memória de todos.

E o que se segue?
Vou lançar mais alguns temas de Pântano. Após isso, vou fazer uma pausa de maneirismo sabático. Tempo de respirar, viver outras coisas em variados planos, reinventar-me. Entretanto, vou dedicar-me um pouco mais à minha escrita, tenciono lançar uma antologia de contos no próximo ano.