O ano terminou… e quando pensamos num tema que insiste em estar na ordem do dia, podemos destacar, a violência doméstica. Este ano, a violência doméstica já vitimou mortalmente 18 indivíduos (15 mulheres e 3 homens), revelam os dados oficiais da Comissão Para a Cidadania e Igualdade de Género. Mais de 23.000 queixas foram registadas pela PSP e GNR entre janeiro e setembro deste ano, período em que ocorreram os 18 homicídios. Cada perda é um sinal de falha coletiva, um alerta de que ainda há vítimas “desprotegidas e invisíveis”. Comparativamente ao período homólogo de 2023, houve menos 274 queixas, mas/ porém mais um homicídio. Embora se verifique um ligeiro decréscimo nas denúncias face ao ano anterior, este fator não significa necessariamente uma diminuição da violência.
Quando se aborda a violência doméstica, o foco geralmente recai sobre a relação entre o ou a agressora e a vítima, no entanto, a outra face do problema não pode ser descurada: o impacto significativo em crianças e jovens expostos a situações de conflito. As estatísticas também nos demonstram que o número de crianças ou jovens expostos a episódios de violência doméstica tem vindo a aumentar. Ainda que possam não ser alvos diretos de agressões físicas ou verbais, a exposição continuada a ambientes tóxicos pode ser tão prejudicial quanto sofrer violência direta.
Tratam-se de vítimas especialmente vulneráveis que requerem uma intervenção especializada. Enquanto técnica, tenho vindo a acompanhar crianças vítimas de violência, e identifico respostas psicossociais que nem sempre são suficientes face aos números e necessidades de intervenção destas crianças. Sendo um problema estrutural, acredito que todos nós, podemos e devemos refletir sobre o que está a ser desenvolvido, o que poderá ser aprimorado ou implementado para auxiliar a combater este fenómeno, que afeta adultos e cada vez mais crianças. Sendo o modelo comportamental adquirido…poderá ser repetido…
Pretende-se “quebrar ciclos de violência” e que ninguém sinta medo de estar onde se devia sentir mais seguro: em sua casa.
Adriana Zola – Psicóloga Forense