MÚSICA Nuno Marecos tem 43 anos e é natural de Almeirim. Estudou na Escola Secundária Marquesa de Alorna, foi militar paraquedista das Forças Especiais Portuguesas, trabalha na área de segurança desde 1997, forcado desde os treze anos e desde cedo que tem uma paixão pela música. Foi um dos artistas participantes na iniciativa Quarentena Alive.
Como foi a tua infância em Almeirim?
A minha infância foi muito feliz! O meu pai tinha um talho em Santarém e a minha mãe era doméstica. Separaram-se quando eu era pequeno mas estiveram sempre próximos de mim.
Nunca me faltou nada. Andei no Karaté até aos dez anos e joguei Hóquei em patins nos Tigres até à idade adulta. Passei por todos os escalões, até ser titular da equipa sénior como guarda-redes.
És muito conhecido em Almeirim. Como é que lidas com isso?
Há um lado bom e um lado mau. Por um lado, tenho muita gente à minha volta que gosta de mim, mas por outro, há muita gente que se aproxima que pode querer aproveitar-se.
Mas sempre soube escolher os meus amigos e perceber quem me interessava. Conheço muita gente, mas tenho muitos bons amigos.
Porquê a vida militar?
Na altura achava que era a melhor forma de servir o meu país. Não consigo ouvir falar mal de Portugal, apesar de saber todos os seus defeitos, é o meu país e amo-o muito. Não sou nacionalista, mas sou um patriota.
Como é que foi essa experiência?
É uma experiência que muda qualquer pessoa e foi, provavelmente, a experiência mais enriquecedora da minha vida. Foi o caminho certo para definir o meu caráter como pessoa e, hoje em dia, acho que todos os jovens deviam passar por essa experiência. É enriquecedora a nível pessoal, cultural e disciplinar.
Desde 1997 que trabalhas na área de segurança. Como é que foste para essa área?
Na altura, foi uma oportunidade que apareceu. Saí da tropa em 19 de setembro de 1997 e comecei em outubro desse ano a trabalhar como segurança. Em 2003 fiz o curso de Guarda-costas pelo MAI (Ministério da Administração Interna) e em 2017 fiz o curso de Diretor de Segurança na Universidade Autónoma de Lisboa, com Pós-graduação em Gestão e Direção de Segurança.
“Aprendemos a dar a vida pelo próximo. É uma escola para a vida. É um amor que não se explica.
Só se sente!
O teu trabalho como segurança já te trouxe projeção a nível nacional e até mundial. Como é que vês isso?
É bom sermos reconhecidos a nível profissional porque valida o teu empenho e esforço na área. Já trabalhei com muita gente conhecida e famosa, tanto nacionais como internacionais, mas, para mim, as pessoas que protejo são todas encaradas com o mesmo sentido de responsabilidade. Obviamente, que em realidades e dimensões diferentes.
Este ano ainda fará trinta anos que és forcado. Fala-me um bocadinho sobre isto.
É a mais linda história de amor da minha vida.
Porquê?
Porque os forcados são o grande pilar da minha formação como homem. É uma escola de valores, camaradagem, entreajuda. Aprendemos a dar a vida pelo próximo. É uma escola para a vida. É um amor que não se explica. Só se sente!
“Aos 13 anos tive a minha primeira bateria comprada pelo meu pai, que ainda hoje guardo religiosamente (…)”
A música sempre fez parte da tua vida. Enquanto criança, ouvias muita música em casa?
Sim. Ouvia muita música. Havia sempre rádios a tocar, e ouvia a minha mãe a cantarolar, e desde muito cedo que me despertou o interesse pelos batuques.
Lembro-me de fazer baterias em casa, com três/quatro anos, com panelas, tachos, baldes… Com o avançar da idade, percebi realmente que o que queria era tocar bateria e ser baterista. Aos 13 anos tive a minha primeira bateria comprada pelo meu pai, que ainda hoje guardo religiosamente, entre as outras sete que tenho.
Entraste logo em bandas?
Ainda mal sabia tocar bateria e formei logo uma banda, na altura, com o Armando Barradas, baixista, o Pedro Ferreira e o Bruno Agostinho, na guitarra, e o Augusto Godinho na voz. Na música tive a felicidade de chegar a gravar um álbum com a banda Ciborium e de aparecer em mais três coletâneas de música.
Ainda gravei dois Ep’s com a banda Devonion e algum tempo depois formei a banda Vinegar, que se mantém ativa até aos dias de hoje. Pelo meio tive ainda oportunidade de tocar com o Nuno Rodrigues (WAKO e Pântano) e com João Lopes (Ciborium), num projeto chamado CUT. Esta foi uma experiência muito fora da caixa porque apelava a todos os sentidos, desde olfativos, visuais e auditivos. Levávamos o público a sentir e a mergulhar na experiência.
“Foi uma experiência muito enriquecedora (…). Gostava muito de poder repetir.”
O projeto ativo é Vinegar. Como é que surgiu?
Os Vinegar surgiram em 2006 comigo, com o Gilberto Faísca e com o António Lopes.
Com o passar dos anos, houve algumas alterações no lineup da banda e, hoje em dia, só eu e o Gilberto é que nos mantemos na banda, acompanhados pelo Sandro Oliveira, no baixo, e pelo Nando Simões nas teclas.
Este é um projeto de covers. Fazemos praticamente todo o tipo de música e temos uma grande facilidade em adaptarmo-nos aos sítios onde vamos tocar, escolhendo o repertório de acordo com o público-alvo que vamos encontrar.
Como é que foi participar no Quarentena Alive?
Foi uma experiência muito enriquecedora. A iniciativa de realizar o Quarentena Alive é louvável porque conseguiu aproximar o público dos artistas, mesmo com a distância que estava implícita ao evento.
O público esteve longe mas perto de nós, ao mesmo tempo. Foi uma experiência única mas enriquecedora. Gostava muito de poder repetir.
“Muitos parabéns a toda a organização desta iniciativa (Quarentena Alive)”
E como foi tocar sem público?
Já estamos habituados a tocar sem público, quando ensaiamos. Aqui, sabíamos que o público estava presente, embora de maneira diferente. Com o Facebook acabámos por ter uma atuação com um reforço muito positivo através dos comentários do público. Muitos parabéns a toda a organização desta iniciativa.
Quais são as tuas maiores aspirações e desejos para o futuro próximo?
Continuar a evoluir na carreira profissional, na área da segurança, e abraçar novos projetos que possam aparecer.
Sou uma pessoa que gosta de desafios e estou sempre pronto e aberto a novas oportunidades.
Entrevista de Ana Rita Amaro