Numa semana em que o 25 de Abril e os seus autores voltaram ao debate público, com a morte de Otelo de Carvalho, é premente falarmos sobre a “ditadura” dos nossos dias que se encontra de tal forma encapuçada que talvez nunca a soubemos identificar como tal. Falo da cultura do medo direta ou indiretamente praticada por quem manda, que faz com que muitos não tornem pública a sua opinião política, nem mesmo quando o assunto é a terra onde vivem. Durante o período de formação de listas autárquicas, multiplicam-se os contactos com pessoas fora de filiações políticas que possam dar o seu contributo e infelizmente a resposta mais ouvida é uma das seguintes: têm o meu voto mas não posso “dar” a cara porque: trabalho para a câmara; fui chamado para a lista do PS e não posso recusar; faço parte da direção de uma associação cultural ou desportiva e posso prejudicar a associação; sou empresário e não quero perder a clientela; posso ter a vida dificuldade quando precisar de ir à câmara.
Até a minha família expressou algum receio quando comecei a falar publicamente sobre a política local com a frase: “é melhor teres cuidado, um dia podes precisar…”. Algo que se calhar todos nós já ouvimos desta ou doutra forma e que me deixou profundamente perplexo e revoltado. Como é possível permitirmos que esta ideia exista no nosso pensamento? Mas para tanta boa gente ter medo, talvez ele seja de facto real.
É esta a liberdade que queremos para os nossos filhos? Que tenhamos medo de que nos sejam negados oportunidades e direitos? É admissível que se percam bons debates por medo de falarmos o que pensamos? Que deixemos que pessoas válidas da nossa sociedade não deem o seu contributo a uma candidatura oposta à do poder instalado porque têm medo de que isso prejudique os seus negócios ou os fundos que as suas associações recebem? É neste clima que queremos continuar a viver? Pois bem, há sempre outras cores onde votar, para Preparar o Futuro.
João Rosa
CDS Almeirim
Artigo de opinião publicado na edição impressa de 1 de agosto de 2021