O clima, nós e a política

Altas temperaturas e seca extrema. O planeta muda de humor, zanga-se, descontente com a forma como os humanos o tratam. Dias onde as temperaturas atingem valores insuportáveis, o vento é prenúncio de inferno e o exotismo das noites tropicais é a angústia do amanhã.

A água escasseia na quase totalidade do país. O Tejo é um rio de areia, as albufeiras põem a descoberto ossaturas esquecidas e a pouca água-vida que resta é regateada entre o necessário consumo humano e a agricultura. O trágico equilíbrio entre morrer à sede ou morrer à fome. O sol devora a água e o fogo tudo o que é vida. Antevisões infernais de Dante. No que respeita ao ambiente, temos, todos, de ser políticos e intervenientes ativos. O combate às alterações climáticas tem de deixar de ser um apêndice nos programas dos diversos partidos políticos – escasso em tamanho e em empenho – e passar a ser uma preocupação essencial.

A decisão do voto terá de ser feita com base nas propostas apresentadas para o ambiente, a par (ou mais…) da saúde ou da educação. E os decisores e dirigentes políticos não podem lembrar-se do estado do planeta e da sua sustentabilidade, só quando o fogo e a fome lhes chegam à porta. Têm de torná-lo num debate permanente.

Perante a evidência, os negacionistas climáticos enfiariam carapuças… se tivessem cabeça. Nas questões do planeta, o ser humano age como Pilatos: lava as mãos, lamentando-se, mas vai-o condenando todos os dias. Depois do calor e da seca, virão repentinas chuvas, torrenciais, destruidoras. E, lá virão novamente as lamentações. Choramos de secos e de molhados, mas agimos pouco. E é urgente que todos ajamos de imediato.

Gustavo da Costa, Ps Almeirim, publicado na edição de 15 de julho