Deputados e autarcas do PSD/Santarém defenderam hoje como chave para o problema da seca o reforço da capacidade de armazenamento, acusando o Governo de “falta de visão estratégica” na “gestão dos cursos de água” em Portugal.
“O grande problema que Portugal tem é que não tem uma visão estratégica e o que está a faltar é o armazenamento de água”, disse hoje em Constância, na confluência dos rios Tejo e Zêzere, o deputado social-democrata João Moura, eleito pelo distrito de Santarém, sublinhando a necessidade de “que o Governo diga rapidamente qual o seu pensamento estratégico para o armazenamento de água em Portugal”.
O deputado e presidente da distrital de Santarém do PSD disse ainda aos jornalistas que a ideia de construir um túnel que transporte água do rio Zêzere para o Tejo “não resolve o problema” de fundo no Tejo e a irregularidade dos seus caudais.
João Moura defendeu a necessidade de um sistema de transvazes e a construção de uma barragem no Ocreza de dimensão bastante para que o país “não fique dependente daquilo que os vizinhos espanhóis enviam”, tendo feito notar que “tanto podem enviar 20 mil metros cúbicos como 600 mil metros cúbicos” num único dia, com os consequentes reflexos ao nível da biodiversidade, atividades agrícolas, turísticas e de lazer.
O deputado reagia a recentes declarações do secretário de Estado da Natureza e das Florestas em Abrantes, quando João Paulo Catarino nomeou, como resposta ao problema da seca, a construção de um túnel entre o rio Zêzere e o rio Tejo, até uma zona mais a montante de Constância, junto a Belver (concelho de Gavião), a cerca de 30 quilómetros a montante, e também “um melhor aproveitamento” do rio Ocreza, eventualmente com a construção de uma nova barragem “de raiz”, a juntar à já existente da Pracana, ou aumentar esta.
“O rio Ocreza é aquele que tem condições mais perto da fronteira com Espanha de armazenar mais água do que tem armazenado, tem apenas a barragem da Pracana, que tem uma capacidade relativamente baixa”, disse João Paulo Catarino aos jornalistas, após uma reunião com autarcas de Santarém, tendo apontado soluções “para setembro ou até ao final do ano”.
Para João Moura, ladeado na visita à Foz do rio Zêzere pela deputada Isaura Morais e autarcas de vários municípios do distrito de Santarém, onde quiseram alertar para a problemática dos níveis dos caudais no rio Tejo, o problema não está nos transvazes em si, que assume poder ser uma ideia que pode ser replicada e alargada a outras regiões, nem em novas barragens, necessárias para o armazenamento de água.
“O que nos parece é que a solução do transvaze em túnel é manifestamente insuficiente para aquele que é o problema do rio Tejo e gastar 100 milhões num túnel que vai levar água do Cabril para o Tejo não resolve o problema de fundo”, afirmou João Moura, tendo defendido que “a construção de um reservatório para armazenamento de água, sim, pode resolver o problema”, tendo alertado, no entanto, que tal dependerá da sua dimensão.
Segundo o deputado, “é preciso perceber que tipo de reservatório se está a pensar, se um mini reservatório e os problemas subsistem, ou de um com dimensões que valha a pena e resolva o problema” de armazenamento.
O armazenamento, reiterou, “é a grande chave de todo o problema para Portugal, que servirá também para produção energética, mas, essencialmente, para fins múltiplos e, para além disso, com uma lógica de transvazes de uns sítios para os outros, aproveitando as múltiplas linhas de água que temos, para poder fazer transvazes para o sul, para o norte e para o centro do país”, concluiu.
C/Lusa