Carolina Duarte fala sobre o Projeto Adélia

O que é o projeto Adélia?
O Projeto Adélia é um projeto de âmbito nacional, promovido pela
Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção de Crianças e Jovens e surge de forma a dar resposta no desenvolvimento de medidas de política para a construção de uma Parentalidade livre de violência e
promoção de comportamentos parentais respeitadores dos melhores
interesses e direitos da criança, como foco na prevenção.
Sendo por isso, um projeto de apoio à Parentalidade Positiva e à Capacitação Parental, e, ao mesmo tempo, uma estratégia
preventiva baseada no conhecimento da realidade infantojuvenil.
De modo a enquadrar-vos acerca dos conceitos principais que trabalhamos
no projeto, retratamos então a Parentalidade Positiva enquanto um comportamento parental que se baseia no melhor interesse da criança,
que garante a satisfação das suas principais necessidades e, ao mesmo
tempo, a sua capacitação, sem uso à violência, conseguindo assegurar o
reconhecimento e a orientação necessária, implicando a fixação de
regras e limites ao seu comportamento, de modo a proporcionar um
desenvolvimento pleno à criança.
Por sua vez, a capacitação parental, tal como o nome indica, pretende capacitar, habilitar e apoiar os progenitores e educadores a desenvolverem
as suas competências na vertente da Parentalidade.
O que nos leva a aderir a este projeto é o resultado das principais problemáticas que, acabamos também por ter presentes na nossa comunidade, no nosso concelho, situações de perigo maioritariamente resultantes de processos de negligência familiar e violência.
Queremos com o projeto ‘Adélia’ ter no concelho de Almeirim,
cada vez melhores famílias, ou pelo menos, mais habilitadas e capacitadas para o seu exercício na Parentalidade positiva.

A quem se destina?
O Projeto ‘Adélia’ acaba por se destinar a toda a comunidade no geral,
não só às famílias e cuidadores formais, mas também aos profissionais
que trabalham diretamente com as famílias, às Comissões de Promoção
e Proteção de Crianças e às Entidades com competência em matéria de
infância e juventude.
Este projeto só resulta contemplando os olhares de todos aqueles a
quem se destina, para de facto percebermos quais são as principais
fragilidades sentidas e os principais aspetos e problemática a trabalhar e
a melhorar.
Dessa forma, foram desenvolvidos quatro tipos questionários de autodiagnóstico, dirigidos à CPCJ, às Entidades com competência de matéria
infância e juventude, às famílias e às crianças e jovens do nosso concelho,
só assim é possível ter um plano de intervenção real e adaptado às necessidades sentidas pela nossa comunidade.

Quais os objetivos?
Como já foi referido anteriormente, sem dúvida alguma, que o objetivo
central do ‘Ádelia’ é ter no concelho de Almeirim cada vez melhores
famílias. O “Adélia” contempla três grandes momentos.
O primeiro reporta ao desenvolvimento de um Plano Local de Promoção
e Proteção dos Direitos da Criança e Jovem centrado no conhecimento
da realidade infantil e juvenil do concelho Almeirim, pois só assim é possível definir estratégias de promoção e intervenção que vão
de encontro à realidade local. Definido este, importa qualificar os profissionais.
Assim o segundo objetivo do projeto, visa a qualificação da intervenção
dos profissionais das entidades parceiras no âmbito dos programas de
capacitação parental e dos técnicos da comissão na vertente do programa inovação social UP2050, de modo a reforçar a capacitação e qualificação
destes, para atender aos desafios e mutações das famílias e sociedade
atual, dotando-os com estratégias e ferramentas para novas formas de
abordagem e de intervenção com as famílias.
Aqui chegados, é então possível entrar no terceiro momento do ‘Adélia’,
o qual consiste em habilitar, apoiar e capacitar as famílias e as
figuras paternais para o exercício das suas funções no âmbito da Parentalidade Positiva nas diferentes vertentes da vida familiar.

O Projeto Adélia desenvolve-se em eixos que se interligam. Desde a
proteção à capacitação… Quer desenvolver estas ideias…

É importante perceber primeiramente que a nossa envolvente está
em constante mutação. Os modelos e dinâmicas familiares divergem
entre si.
É necessário que nós, enquanto profissionais, tenhamos a consciência
que, para lidarmos com diferentes sujeitos entre si, são requeridas abordagens também elas distintas entre si. Essas abordagens divergentes só podem ser adquiridas através do conhecimento, quer dos profissionais que têm que estar em constante formação e aprendizagem, quer posteriormente, no trabalho que efetuam na capacitação das famílias para o exercício de uma Parentalidade.
Por isso, o Projeto ‘Adélia’ desenvolve-se sob quatro eixos: Mais Proteção, Mais Capacitação, Mais Famílias Positivas e Mais Inovação Social, sendo que estes dois últimos são transversais.
No eixo de Mais Proteção inclui-se o desenvolvimento do Plano Local de promoção e proteção dos direitos das crianças e dos Jovens do concelho
de Almeirim, garantindo a participação efetiva das crianças e de
atividades que permitam a melhoria das competências parentais. Plano esse, que tem por base um diagnóstico local, conseguido pelo
olhar de todos os que constituem o nosso território, nomeadamente,
das crianças, jovens, famílias, entidades parceiras e pela própria
comissão, permitindo detetar as nossas forças, fraquezas, ameaças e
oportunidades, de modo a intervirmos numa vertente especializada e
comunitária. O que possibilita um levantamento das principais necessidades sentidas no nosso território. Desta forma, possibilita uma melhor caraterização do contexto socioeconómico e familiar da nossa comunidade, bem como o levantamento das principais necessidades sentidas no nosso território. Donde nos permite definir e construir os eixos estratégicos de intervenção
adequados e pertinentes às fragilidades e necessidades da nossa
comunidade.
Por sua vez, o eixo de Mais Capacitação dirige-se à capacitação dos
técnicos e profissionais que trabalham diretamente com as crianças
e as famílias no domínio da melhoria das competências e desempenho
parental, nomeadamente, no âmbito de três programas “Os Anos Incríveis”,
“Mais Família – Mais Jovem” e “Crianças no Meio do Conflito”. Neste eixo é ainda criado o Conselho Nacional de Crianças e Jovens dos 8 aos 17 anos, visando a participação social e política. O eixo Mais Famílias
Positivas – ao ser transversal – incide no trabalho de sensibilização
e formação para públicos estratégicos no âmbito da promoção da Parentalidade Positiva e dos direitos
das crianças e jovens. Mais Inovação Social remete para o último eixo do
‘Adélia’, sendo que é de onde surgirão novas estratégias de ação e
intervenção, programas de ideação e aceleração e ainda concursos de ideias e soluções inovadoras para a promoção da Parentalidade positiva.

Logótipo do projeto Adélia

Como tem corrido no concelho de
Almeirim?

A CPCJ de Almeirim aderiu ao projeto no final do ano passado. Como 2020 era o prazo limite inicialmente estabelecido para implementação do “Adélia”, tivemos de iniciar o projeto em pleno estado de calamidade, com todas as vicissitudes que daí decorreram. Estas circunstâncias, inevitavelmente, condicionaram e atrasaram um pouco o que havíamos planificado e, nesta parte, não correu tão bem quanto desejávamos.
Em contrapartida, tivemos muito boa adesão por parte da Escola, de
todos os seus agentes, Direção, Professores, alunos. Iniciámos no mês
de novembro a ida às escolas do concelho para apresentarmos às nossas
crianças e jovens, o ‘Adélia’ e junto destes aplicarmos os questionários
de autodiagnóstico. E aqui, tem sido altamente motivador, pois temos recebido, dos alunos, o melhor acolhimento e a adesão ao “Adélia”. Sempre com muito entusiamo e interesse. Dá gosto!
De salientar que tal só é possível, devido ao interesse e investimento,
que tem sido em muito, por parte da Escola. Sem dúvida, um excelente
aliado neste projeto, o que nos tem também permitido recuperar as
nossas metas.

Quais tem sido as maiores dificuldades?
Conforme nos referimos anteriormente, a pandemia do Covid-19,
veio “atrapalhar” em muito as nossas vidas, aos mais diversos níveis. E
pese embora tenhamos um membro destacado a 100% para o ‘Adélia’, a verdade é que sozinho não é possível desenvolver o projeto.
Este trabalho exige e requer alguma sensibilização, mobilização, empatia,
disponibilidade e colaboração dos diversos parceiros, o que, salvo
algumas exceções, nem sempre têm correspondido. Admitimos que, em muito, devido ao cenário Covid-19, absorveu o capital humano dos serviços a 200%. Acreditamos que a nossa dificuldade tem sido a dificuldade de muitas outras entidades locais, reconhecendo que todos estamos a tentar adaptar-nos e a dar o nosso melhor.

E as principais conclusões a retirar?
É importante realçar a importância do diagnóstico da nossa comunidade, a necessidade de haver um plano local de acordo com o diagnóstico
realizado com o intuito de se definir as melhores estratégias para a intervenção.
Realçar ainda, a importância da promoção, pois se houver um maior investimento na prevenção, resultará na redução das situações de perigo.
É certo que estes diagnósticos, em regra, têm uma duração limitada,
cerca de quatro anos, havendo sempre a possibilidade de ser ajustado
consoante novas necessidades sentidas e as próprias mutações familiares
e da comunidade, mas sem dúvida que se traduz numa excelente
ferramenta para definir estratégias de ação e intervenção muito mais assertivas e eficazes.
Acreditamos verdadeiramente que o ‘Adélia’ poderá mesmo fazer a diferença na vida das famílias e das crianças e jovens do nosso concelho.

O que a pandemia veio dificultar o vosso trabalho?
No que diz respeito ao ‘Adélia’, tal como nos referimos anteriormente,
as maiores dificuldades acabaram por ser todos os condicionalismos de
âmbito geral que surgiram aos mais diversos níveis com o aparecimento
da pandemia.
Um projeto desta natureza carece de uma abordagem pessoal e uma disponibilidade por parte dos diversos parceiros que não foi possível criar. Porém, fomos conseguindo encontrar caminhos alternativos ao nosso
trabalho, para que continue a ser cumprido da mesma forma, com rigor
e exatidão.
Não foi de qualquer forma desmoralizador, tendo permitido até fazer
emergir capacidades individuais e de grupo, como a criatividade, resiliência
e espírito de equipa.

Quais os desafios para 2021?
Não sabemos o que o ano 2021 nos reserva, no entanto um dos desafios
será sem dúvida, concluir o projeto ‘Adélia’ dentro dos prazos a que
nos propusemos, seguido da implementação no nosso território, dos
objetivos nele preconizados e claro conseguir acolher a maior recetividade por parte das crianças, famílias e parceiros da nossa comunidade a este projeto.