Eleições norte-americanas de 2016. A “Cintura Industrial” dos Estados Unidos é agora conhecida como a “Cintura da Ferrugem” devido ao desaparecimento de milhares de empregos provocado pela crise económica e pela globalização.
Hillary Clinton, confiante nas sondagens e no padrão eleitoral, que há mais de duas décadas dá vitórias aos democratas, pouca campanha lá faz. Aquela população, que já sofria os efeitos da pobreza e do desemprego, viu-se abandonada pelos que, durante anos, ajudara a eleger. O resto da história é conhecido: os republicanos venceram nesses estados e nas eleições de 2016 e Donald Trump foi eleito presidente dos EUA.
“Eles não são fascistas, nem tão pouco racistas ou xenófobos. Eles só querem os seus problemas resolvidos (…)”
Na noite eleitoral do passado domingo, a surpresa sobressaiu ao constatar-se que, em todo o Alentejo, o candidato conotado com a extrema-direita tinha ficado à frente dos da esquerda. Rapidamente, as redes sociais se indignaram com tamanha afronta ao passado de resistência ao fascismo. Mas não foi só no Alentejo; em todo o interior, desertificado e abandonado,
André Ventura foi o segundo mais votado.
As populações do interior, cansadas de anos de esquecimento e de desprezo por parte dos políticos com discursos floreados e promessas vãs, votaram num candidato populista. Eles não são fascistas, nem tão pouco racistas ou xenófobos. Eles só querem os seus problemas resolvidos e encontraram alguém que lhes fala diretamente e lhes diz o que eles querem ouvir, tal como Trump fez com os “rust belters”.
Por cá, Ventura ainda não ganhou nada. Está nas mãos dos políticos moderados assegurar que assim continue.
Humberto Neves
PSD Almeirim
Artigo de opinião publicado na edição impressa de 1 de fevereiro de 2021