O “Improvável” é o seu primeiro romance. No entanto, entrou no mundo da escrita através da publicação digital de contos. Onde e como surgiu o momento em que percebeu que gostava de escrever e de lançar uma obra?
António Rocha Pinto (A.R.P): Há não muito tempo. Sempre gostei de ler, sempre fui um leitor compulsivo, viciado mesmo e, a dada altura, como que o copo encheu e começou a transbordar. Comecei com um conto, depois outro.
Fui ouvindo críticas, na sua maioria positivas e, quando me senti preparado, avancei para um romance.
Para tema do livro, escreveu a história da sua família. Porque decidiu, para sua primeira obra, falar sobre o tema?
A.R.P: Correção: não escrevi a história da minha família, escrevi um romance ancorado em histórias da minha família,
“estórias” como agora se diz. Em concreto, dos meus pais e de uns tios meus.
A razão é a de que essas histórias eram uma boa ignição, por serem tão diversas, tão inverosímeis (improváveis, chamei-lhes) e simultaneamente tão reais. Também facilitou sempre ter vivido com elas, ajuda na escrita o autor ter alguma relação com a história.
Sentiu dificuldades no processo de escrita do livro? Se a resposta for afirmativa, quais foram essas dificuldades?
A.R.P: A maior dificuldade foi o tempo, ou a falta dele. A escrita tem sido para mim um hobby, o meu trabalho é outro. Quando comecei, tinha basicamente o romance todo ordenado na cabeça, o que me faltava era tempo para a pesquisa e para a escrita. Tive então que ser resiliente, o processo teve de se arrastar por uns dois anos, até que achei que estava concluído.
Quais são os passos a seguir no seu método de escrita?
A.R.P: O meu método é um bocado anárquico. Imagine a montagem de um puzzle. Sabe o resultado final, mas tem que ir colocando peças, uma a uma. Por vezes, só peças azuis, por vezes de outras cores. No final, há que ter todo o “quadro” pronto. A escolha das “peças” depende muito do estado de espírito de cada dia. Ou de alguma experiência que tenha vivido nesse dia e que me estimule alguma ligação.
“Improvável” foi publicado em dezembro de 2020. Cinco meses após o lançamento do livro, como tem sido a reação e comentários das pessoas relativamente ao livro?
A.R.P: Muitíssimo boas. Mais do que esperava. De uma forma muito transversal, na idade e no posicionamento na vida dos leitores. Tenho para sair uma segunda edição, o que me parece garantir que os leitores estão a gostar e, sobretudo, que há o passa palavra, que é a melhor publicidade.
No dia 15 de maio, fez um lançamento público do livro em Santarém. Qual foi a primeira reação das pessoas que estiveram presentes? Alguma das reações ficou marcada na sua memória?
A.R.P: A apresentação do livro foi feita por um amigo meu. O meu mais antigo amigo, conhecemo-nos no infantário. E a apresentação que ele fez do livro até a mim me espantou, pela positiva. Também muito positiva foram as questões das pessoas que lá estiveram, mas que já tinham o livro lido e que só lá tinham ido para ter uma dedicatória, um autógrafo.
Essas pessoas provaram-me que tinha conseguido fazer passar o sentimento que pretendia.
Como foi referido anteriormente, entrou no mundo da escrita através de contos infantis. Está nos seus planos futuros publicar, em formato físico, um compilado de contos infantis?
A.R.P: Vou criando os contos à medida que os meus netos crescem, em idade e em número. A publicação vai esperar até que possa incluir, também, algumas histórias deles e, se possível, também ilustrações produzidas por eles.
Nos seus planos futuros, está a pensar escrever outros géneros literários, ou apenas romances?
A.R.P: Um passo de cada vez. Tenho ideia de escrever um ensaio, mas, neste momento, tenho em curso outro romance e que tem as mesmas dificuldades que o anterior, a falta de tempo. As outras ideias, como o ensaio ou mesmo uma banda desenhada, terão que esperar.
Existem cada vez menos pessoas a adquirir o gosto pela escrita e pela leitura pelo livro físico. Na sua opinião, como a escrita e a leitura são importantes para as pessoas?
A.R.P: Depois de ler um livro, ninguém fica igual. Os livros estimulam-nos os sentidos, permitem-nos ir a locais onde nunca iremos, a percecionar problemas em que não tínhamos pensado. A questionar a nossa vida e a dos outros. O ensino tenta obrigar os alunos a lerem um determinado número de livros, clássicos, que eles leem reticentemente, porque são obrigados. É pena, deviam ser estimulados a ler por gosto, começando pelo que gostassem e, aos poucos, irem descobrindo a literatura.
Que mensagem gostaria de deixar aos almeirinenses que, assim como aconteceu consigo, gostam de escrever e gostariam de ver um dia lançados os seus próprios livros?
A.R.P: O primeiro conselho é que não deixem de ler, muito, e sobretudo, mas que não deixem de ler os “clássicos”
dentro do género que prefiram. O segundo é que, podendo, viajem, não interessa para onde, se para perto ou
longe. As viagens apuram os sentidos. Outra nota é que nos devemos deslocar sempre com um pequeno caderno e uma caneta. As ideias vêm quando menos se espera e vão-se embora se não as agarramos no momento. Finalmente, que percam o medo que, no início, nos enche, e que acreditem em si. Finalmente, que escrevam porque precisam, e gostem de escrever, como de respirar e não por qualquer outra razão.