José Marques nasceu em Almeirim e desde tenra idade que se interessou pela música, pelas guitarras e outros instrumentos de corda. Aos 14 anos, José iniciou sua carreira como carpinteiro, uma profissão que foi mantendo ao longo de muitos anos. Já emigrou para Inglaterra e voltou há três anos. Hoje constrói guitarras, na sua maioria clássicas.
Como nasceu este gosto pela música e em particular pela construção de instrumentos musicais?
Eu toda a vida estive relacionado, de alguma forma, à guitarra, toquei guitarra elétrica durante muitos anos e participei em bandas aqui em Almeirim, tais como Ciborium, Devonian e Tyrania, para citar as mais “importantes”.
Em que altura da sua vida descobriu essa vocação?
Eu acho que foi o amor pelo instrumento. Eu tentei várias vezes construir mas tinha muita coisa a correr ao mesmo tempo nunca me tinha dedicado100% ao estudo da construção, isso acabou por acontecer numa altura em que estava no Alentejo e em que, por causa da crise, fiquei sem emprego, nessa altura conheci o senhor Daniel e ele aceitou-me como seu aprendiz . A vocação veio com a construção dos primeiros instrumentos que começaram a ter boas criticas e ai eu resolvi dedicar-me 100% pois apesar de novo na arte as criticas foram sempre muito positivas.
Que tipo de instrumentos produz?
Maioritariamente guitarra clássica, também elétricas e acústica de cordas de aço, mas a guitarra clássica passou a ser uma paixão e como é um instrumento muito desafiante, cada vez me envolvi mais no seu estudo, embora por fora pareça tudo “igual”, na realidade existem muitos géneros e sub-géneros de guitarra clássica, o seu estudo é eterno, todos os dias encontramos coisas novas e ao trocar ideias com outros construtores em todo o globo, acabamos por chegar à conclusão que há muito ainda para evoluir com este instrumento.
O José tem algum segredo para produzir o seu trabalho?
Não existem segredos e sim estudo, existe uma ideia errada que nós, os construtores, fazemos uma magia qualquer, mas claro que não, o que acontece é que trabalhamos para chegar a um produto final. Simplesmente estudar física, som , propagação do som, e claro, comportamento dos materiais. Ou seja … estudo.
Eu inclusive ensino tudo o que sei pois faço cursos.
Qual é o processo para se chegar até uma guitarra? Que tipo de materiais são usados?
Os Materiais têm de ter a qualidade para um instrumento, o corte das madeiras para fazer, um instrumento é muito diferente do corte para fazer por exemplo, uma porta. Nós só trabalhamos com quarter-sawn, ou seja, os veios ao alto, isso tem a ver com a força exercida num pedaço de madeira, assim como a propagação da sua vibração.
Também se costuma chamar de tonewood à madeira usada na construção de instrumentos.
Como chegar a fazer o instrumento, não é nada complicado, como qualquer coisa quando se aprende é fácil.
Que caminho é necessário fazer para atingir o nível de trabalho e qualidade que o José apresenta?
Bem, chegar ao que eu cheguei foi muito estudo e, claro ,muitos erros também, só mesmo fazendo é que se pode crescer.Eu digo sempre aos meus alunos que antes de fazer o curso devem ler sobre várias coisas dentro da área, existem algumas obras que aconselho, antes de meter a mão na massa.
Quais foram as suas influências nesta área?
Várias. Quando eu me decidi dedicar à guitarra clássica a fundo comecei por ler José Romanillos com o que ia lendo ia aplicando, claro que também o grande Antonio Torres ,depois passei para Houser, Friederich e ultimamente venho estudar Dominique Field, que para mim está muito perto do que eu considero um instrumento “perfeito” .
Mas como eu gosto de andar a ler várias coisas, e fazer várias coisas também estudo Dammann e Wagner, que são os “inventores” do double top e já estudei o Smallmann que foi o “inventor” do lattice com fibra de carbono, mas no entanto passei a estudar outros como a fibra de carbono e usaram diferentes métodos, eu também fui por esse caminho.
Mas estou sempre à procura de novas técnicas , estruturas, etc.
Que artistas procuram os seus instrumentos?
Como o meu trabalho é direcionado para a guitarra clássica, neste momento, ou estudantes de guitarra clássica, concertistas e mestres. Tenho instrumentos, a nível mundial, em mãos de grandes mestres e concertistas mas também de muitos alunos.
É natural do concelho de Almeirim. O que o levou a emigrar para o Reino Unido?
Várias coisas: a instabilidade que existia a nível profissional, basicamente em todo o país e a minha procura de mais conhecimento.
Quando voltou?
Estou de volta fez 31de junho, três anos.
Até onde quer chegar nesta área, futuramente?
Evoluir e ter cada vez mais conhecimento na minha área.